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Por Redação O Sul | 3 de janeiro de 2022
O Brasil deve receber 3,7 milhões de vacinas infantis da Pfizer contra a covid-19 no mês de janeiro. Até o fim do primeiro trimestre, 20 milhões de doses chegarão ao País, no total, de acordo com fontes do governo.
Dados do IBGE mostram que o Brasil tem 20,5 milhões crianças entre 5 e 11 anos, ou seja, haveria como aplicar a primeira dose em toda essa faixa etária até março. Já a quantidade a ser recebida em janeiro seria suficiente para imunizar, por exemplo, todas as crianças de 11 anos (2,8 milhões, segundo o instituto).
Apesar de haver uma audiência pública marcada para esta terça-feira (4) para discutir o tema, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse nesta segunda-feira (3) que a vacinação deve começar na segunda quinzena deste mês.
A ideia é dar a primeira dose nesse intervalo e a segunda no segundo trimestre, quando uma nova remessa de 20 milhões de unidades do imunizante deve ser recebida.
A vacina para crianças tem dose menor do que a de adulto, cerca de 1/3, e é fornecida em frascos diferenciados. A vacinação deverá ser feita seguindo, inicialmente, critérios de comorbidade e, em seguida, de idade, do maior para o mais novo.
A primeira remessa, com 1,248 milhão de doses, deve chegar ao País no dia 13 de janeiro. Mais 1,248 milhões de unidades são esperadas para 20 de janeiro e outras cerca de 1,2 milhão até o fim do mês.
Em novembro, o governo negociava essa quantidade de imunizantes para a faixa etária, já se antevendo à aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O fornecimento foi incluído em um contrato já assinado com a Pfizer e condicionado, à época, à aprovação da agência.
O tema, no entanto, enfrenta resistência do presidente Jair Bolsonaro e de apoiadores, o que levou o Ministério da Saúde a criar empecilhos, como uma consulta pública e a audiência desta terça.
Queiroga chegou a dizer que o Brasil será “um dos primeiros países a distribuir a vacina para crianças que os pais desejem fazer”. A vacinação contra a covid-19 em crianças, porém, já está permitida em pelo menos 31 países de quatro continentes. O imunizante já começou a ser aplicado em países como Estados Unidos, Áustria, Alemanha, Chile, China e Colômbia.
Na sexta-feira (31), o Ministério da Saúde afirmou em nota que sua recomendação é “pela inclusão da vacinação em crianças de 5 a 11 anos no Plano Nacional de Operacionalização das Vacinas Contra a Covid-19”.
“No dia 5 de janeiro, após ouvir a sociedade, a pasta formalizará sua decisão e, mantida a recomendação, a imunização desta faixa etária deve iniciar ainda em janeiro”, informou.
A aplicação da vacina da Pfizer para crianças de 5 a 11 anos está autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 16 de dezembro. O Ministério da Saúde, no entanto, ainda não anunciou publicamente um cronograma para a imunização deste público até o momento.
Volta às aulas
Especialistas alertam que as crianças deveriam ser vacinadas antes do início do ano escolar, mas revelam apreensão com o prazo curto — na maioria dos Estados, as aulas presenciais começam em fevereiro. Com isso, na visão dos epidemiologistas, as crianças vão voltar às aulas apenas com a primeira dose aplicada, ou seja, sem a imunização completa.
“Dá para iniciar a vacinação, mas será muito difícil conseguir vacinar todas, pois são cerca de 20 milhões de crianças, lembrando que a proteção ideal é feita com duas doses com intervalo mínimo de 21 dias”, lembra a epidemiologista Carla Domingues, coordenadora do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde de 2011 até 2019.
Ethel Maciel, epidemiologista da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), concorda. “As crianças vão conseguir tomar apenas a primeira dose. Nós deveríamos ter iniciado a campanha em dezembro”, opina.
Além do prazo apertado, os especialistas mostram preocupação com a falta de uma campanha de mobilização. Para Carla, distribuir as vacinas e esperar a demanda espontânea da população não são ações suficientes. “A gente não tem uma comunicação forte do governo falando que são vacinas seguras e eficazes. Por outro lado, existem fake news que propagam a não vacinação. Isso também tem de ser avaliado no impacto da vacinação nas crianças”, alerta.