Domingo, 26 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 29 de abril de 2023
A saga “Harry Potter”, baseada nos best-sellers de J. K. Rowling, passou pelos cinemas com oito filmes, lançados entre 2001 e 2011, e agora vai ser transformada em série. “Crepúsculo”, inspirado em obras de Stephenie Meyer, rendeu cinco longas entre 2008 e 2012, e também vai ganhar vida nova no streaming. Mais recente, a animação “Moana — Um mar de aventuras” (2016) logo estará de volta, agora em versão live-action. Grandes sucessos, estas produções parecem ter algo mais em comum: uma relutância em sumirem do mapa, ou melhor, das telas.
Profissionais do audiovisual e estudiosos do ramo avaliam que é cada vez menor o intervalo entre o lançamento de uma produção original e a hora em que é decidido trazê-la de volta — seja como remake, reboot, spin-off, sequência, continuação ou adaptação de filme para série, e vice-versa. No melhor estilo “a volta dos que não foram”.
“Franquias são as únicas coisas que importam em Hollywood. Um produto já testado e querido pelo público é algo que todo estúdio procura”, destaca o americano Matthew Belloni, ex-editor do Hollywood Reporter e fundador do site Puck, especializado no mercado de entretenimento.
Reciclagem, claro, existe desde os primórdios de Hollywood: em 1899, o curta “O beijo no túnel” estreou em novembro e teve refilmagem lançada em dezembro. Drácula e outros monstros se destacaram nos anos 1920 e são sempre revisitados. O mesmo pode ser dito de “Os três mosqueteiros”, cuja última versão está em cartaz.
Mas, nos últimos anos, o processo parece ter se intensificado (e acelerado). A franquia “Homem-Aranha”, por exemplo, teve oito filmes desde 2002, sendo reiniciada duas vezes, com três atores diferentes (Tobey Maguire, Andrew Garfield e Tom Holland) vivendo o mesmo herói. O intervalo foi tão curto que os três nem chegaram a “envelhecer” e puderam estar em ação juntos (graças ao multiverso) num mesmo longa, “Homem-Aranha: sem volta para casa”, de 2021.
Novo de novo
Belloni lembra que as versões live-action de “O rei leão”, “Aladdin” e “A Bela e a fera” foram alguns dos maiores sucessos recentes da Disney, o que torna uma refilmagem de “Moana” com atores nada surpreendente — e ainda temos a caminho “A pequena sereia”, “Lilo & Stitch” e “Peter Pan”.
“O grande problema em apenas se refilmar sucessos é que você não cria novos hits. Logo, não teremos mais filmes para se refilmar”, reflete o jornalista.
Analista do mercado audiovisual, Marcelo J.L. Lima acredita que a grande questão está em não querer assumir riscos e investir apenas no que é mais seguro:
“Os grandes estúdios americanos estão na bolsa de valores e precisam prestar contas. Além disso, temos o streaming, que precisa de conteúdo que consiga atrair o assinante de cara”
De fato, familiaridade é um grande ativo no streaming. Depois de virarem filmes, os livros de Harry Potter serão uma série que está sendo desenvolvida para a Max, plataforma que reunirá os acervos de HBO Max e Discovery+. Mesma coisa com a saga de “Crepúsculo”, projeto da Lionsgate TV. Já o novo “Lilo & Stitch” está sendo pensado para o Disney+, como ocorreu com a versão live-action de “A dama e o vagabundo”.
Doutor em Comunicação e professor na Universidade Católica de Pernambuco, Filipe Falcão reconhece que fazer remake é apostar numa fórmula conhecida, mas que há brecha para renovação.
“O remake geralmente traz uma resposta ao que está acontecendo em cada época, seja nos temas ou na técnica”, diz Falcão. “Muita gente fala mal do remake, mas se esquece de que ele muitas vezes consegue trazer a história para um discurso mais contemporâneo, preocupado com diversidade e representatividade. Além disso, pode manter a obra viva e até levar um público novo a consumir o original”, prossegue.
Risco da originalidade
A decisão de apostar no que está dando certo envolveria ainda outros fatores, incluindo a pandemia, que gerou grave crise no circuito exibidor, hoje afoito por produções que consigam atrair o público. De um ano para cá, os salvadores da pátria foram longas como “Top Gun: Maverick”, “Avatar: o caminho da água” e, mais recentemente, “Super Mario Bros. — O filme”, todos requentando histórias conhecidas.
“Originalidade carrega risco”, reforça Belloni. “Sempre que você pensa numa produção sem vínculos com uma história preexistente, ela carrega mais perigos que uma refilmagem ou adaptação.”
Mais do mesmo
No momento, “Harry Potter” inicia sua fase de pré-produção, tendo como prioridade a escolha do elenco. O desafio será encontrar um Harry, um Rony e uma Hermione para crescerem diante do público e marcarem época como aconteceu com Daniel Radcliffe, Rupert Grint e Emma Watson, respectivamente. A série, ainda sem previsão de estreia, deve transformar os sete livros em dez temporadas de TV. A autora J. K. Rowling será produtora executiva da nova obra.
Enquanto isso, a série de “Crepúsculo” é um projeto menos concreto, ainda no campo das ideias, embora esteja confirmada a participação da autora dos livros, Stephenie Meyer. Wyck Godfrey, produtor dos cinco filmes, e Erik Feig, ex-presidente da Lionsgate, seriam os produtores executivos da série.
Voz do semideus Maui na animação original, Dwayne Johnson voltará ao papel na versão live-action de “Moana”. A atriz que irá interpretar a personagem título ainda não foi anunciada. Auli’i Cravalho, que dublou Moana originalmente, retorna como produtora-executiva.