Terça-feira, 11 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 16 de agosto de 2015
A jornalista Juliana Holanda, 33 anos, decidiu tornar pública a violência sexual que sofreu dentro de um avião da empresa Ethiopian Airlines. O caso foi publicado em seu perfil no Facebook, e ocorreu em 3 de julho deste ano.
A pernambucana conta que viajava de Natal, no Rio Grande do Norte, onde mora, para Londres (Inglaterra), para participar de um curso de qualificação profissional. A violência aconteceu, segundo ela, no voo ET 700 que saiu de Addis Abeba (Etiópia) em direção à capital inglesa.
O caso
“Eu estava viajando há mais de 24 horas e, apesar de cansada, não consegui dormir no voo. Fiquei apenas de olhos fechados, escutando música. Foi a minha sorte. Eu estava na poltrona da janela. Algumas horas após a decolagem, as luzes estavam apagadas. O homem que estava ao meu lado começou a se masturbar virado para a minha direção. Notei o movimento da cadeira e abri os olhos sem acreditar no que estava acontecendo. Nesse momento, ele estava tentando pegar em mim”, afirma.
Juliana lembra que se levantou e foi pedir ajuda à tripulação. Ela teve de insistir para falar com o responsável pelo voo e mudar de poltrona. “Comecei a chorar de susto, raiva, vergonha, impotência, tudo misturado”, frisa.
“[A responsável pelo voo] começou a me perguntar o que tinha acontecido, ali mesmo, na frente das pessoas. Eu expliquei. Ela perguntou se eu tinha testemunhas. Eu disse que as luzes estavam apagadas e as pessoas ao redor estavam dormindo. Ela disse que, sem testemunhas, ela não poderia fazer nada.” “É revoltante que uma empresa não respeite os direitos da mulher e que diga que só agiria se tivesse ocorrido um estupro”, critica a jornalista.
Frustração.
A brasileira prestou queixa na polícia ao chegar a Londres. Soube que o suspeito foi identificado, detido e levado à delegacia, mas foi liberado após dizer, em depoimento, que passou o voo dormindo. Então, Juliana tentou entrar em contato por e-mail com a companhia aérea. “Não tive nenhuma resposta oficial da empresa. Apenas um funcionário ficou consternado com a situação e me escreveu pedindo desculpas”, conta.
No último dia 30, ela recebeu uma mensagem da empresa, que responsabilizou a passageira pelo que ocorreu. “Recebi um e-mail da empresa dizendo que a culpa era minha porque eu que não quis chamar a polícia nem levar o caso adiante.” Ela processar a companhia.
O escritório brasileiro da Ethiopian Airlines lamentou o ocorrido. “Infelizmente, não temos como controlar as atitudes dos passageiros a bordo. Porém, já acionamos a matriz em Addis, uma vez que o voo não envolveu o Brasil, a fim de entender exatamente o que aconteceu”, informa a empresa, em um comunicado.
Violência sexual, sim.
Apesar de não ter havido contato físico, a jornalista foi, sim, vítima de violência sexual, segundo a defensora pública Ana Rita Souza Prata. Se o caso tivesse ocorrido no espaço aéreo brasileiro, o agressor poderia responder por importunação ofensiva ao pudor, contravenção penal sujeita à multa ou prática de ato obsceno, crime que prevê pena de detenção de três meses a um ano.
E ainda há formas de exigir reparação da empresa na esfera cível. “Ela pode acionar a Justiça contra a companhia já que a empresa não acolheu a demanda dela, além de ter sido exposta. Como ela comprou a passagem aqui, o domicílio dela é aqui, ela pode tomar as providências aqui”, orienta Ana Rita. (Folhapress)