Quinta-feira, 16 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 4 de outubro de 2019
As imagens são horríveis. Crianças, algumas de apenas 3 ou 4 anos, sendo abusadas sexualmente e, em alguns casos, torturadas. Fotos de abuso sexual infantil são produzidas e compartilhadas há muito tempo, mas nunca a esse ponto: as empresas de tecnologia registraram um recorde de 45 milhões de fotos e vídeos online de abusos no ano passado. As informações são do jornal Folha de S. Paulo.
Mais de uma década atrás, quando o número relatado era inferior a 1 milhão, a proliferação de imagens explícitas já tinha atingido um ponto crítico. Empresas de tecnologia, agências policiais e legisladores em Washington reagiram, prometendo novas medidas para conter o flagelo. Leis de referência foram aprovadas em 2008.
No entanto, o volume de conteúdo detectado continuou crescendo exponencialmente.
Uma investigação do New York Times encontrou um submundo criminoso insaciável que explorou os esforços falhos e insuficientes para contê-lo.
Um artigo publicado recentemente em conjunto com o Centro Nacional para Crianças Desaparecidas e Exploradas disse que o sistema estava em “ponto de ruptura”, relatando imagens abusivas que “excedem as capacidades de organizações independentes e de órgãos policiais tomarem medidas”. Ele sugeriu que futuros avanços em machine learning (ou aprendizado de máquina) poderão ser a única maneira de deter os criminosos.
Em entrevistas, as vítimas nos Estados Unidos descreveram em detalhes de cortar o coração como suas vidas foram destruídas pelo abuso. Muitos sobreviventes e suas famílias disseram que sua visão da humanidade havia sido inextricavelmente alterada pelos crimes e pela demanda online por imagens deles.
“Eu realmente não sei como lidar com isso”, disse uma mulher que, aos 11 anos, foi filmada sendo abusada sexualmente por seu pai. “Você apenas tenta se sentir bem e não deixar que algo assim defina toda a sua vida. Mas a divulgação das fotos é… é o que mantém a coisa viva.
As reportagens do New York Times revelaram um problema de alcance global, mas firmemente enraizado nos Estados Unidos por causa do papel central que o Vale do Silício desempenhou ao facilitar a propagação das imagens e sua denúncia às autoridades.
Embora o material, comumente conhecido como pornografia infantil, seja anterior à era digital, as câmeras de smartphones, as redes sociais e o armazenamento em nuvem permitiram que as imagens se multiplicassem em ritmo alarmante.
Em uma tendência especialmente perturbadora, grupos online estão se dedicando a compartilhar imagens de crianças pequenas e formas mais radicais de abuso. Os grupos usam tecnologias criptografadas e a dark web (área não rastreável da internet), para ensinar aos pedófilos a praticar crimes e a registrar e compartilhar imagens de abusos em todo o mundo.
Após anos de monitoramento inadequado do material, várias grandes empresas de tecnologia intensificaram a vigilância de suas plataformas. Executivos de algumas empresas apontaram o monitoramento voluntário e o aumento das denúncias como indicação de seu compromisso em resolver o problema.
Porém, registros policiais e emails, além de entrevistas com policiais locais, estaduais e federais, mostram que algumas empresas de tecnologia ainda ficam aquém. Pode levar semanas ou meses para que elas respondam às perguntas das autoridades, quando respondem. Às vezes, alegam apenas que não têm registros, mesmo de denúncias que elas próprias iniciaram.
E quando as empresas de tecnologia cooperam totalmente a criptografia e o anonimato podem criar esconderijos digitais para os autores. O Facebook anunciou em março planos de criptografar o Messenger, que no ano passado foi responsável por quase 12 milhões dos 18,4 milhões de denúncias mundiais de material de abuso sexual infantil, segundo pessoas familiarizadas com as denúncias.
Os relatos às autoridades normalmente contêm mais de uma imagem e, no ano passado somaram 45 milhões de fotos e vídeos, de acordo com o Centro Nacional para Crianças Desaparecidas e Exploradas.
A lei aprovada pelo Congresso em 2008 previa muitos dos problemas atuais, mas a reportagem descobriu que o governo federal não havia cumprido os principais pontos da legislação.
O Departamento de Justiça produziu apenas dois dos seis relatórios necessários para compilar dados sobre crimes na Internet contra crianças e definir metas para eliminá-los, e tem havido uma rotatividade constante de nomeados liderando as iniciativas do departamento.
O governo federal também não cumpriu as metas de financiamento da lei.
O Congresso aloca regularmente cerca de metade dos US$ 60 milhões em verbas anuais para os esforços estaduais e locais de policiamento. No entanto, o Departamento de Segurança Interna neste ano tirou quase US$ 6 milhões de suas unidades de crimes cibernéticos e os destinou para a imigração.