Domingo, 11 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 12 de abril de 2023
Albert Einstein escreve uma equação sobre a densidade da Via Láctea.
Foto: ReproduçãoUm estudo publicado nesta quarta-feira (12) por cientistas das empresas IBM e Samsung em parceria com universidades americanas relata a criação de um sistema de inteligência artificial capaz de deduzir equações elaboradas por grandes cientistas usando apenas os dados que estavam à disposição deles.
Batizada de AI-Descartes (em homenagem ao filósofo pai do Iluminismo), a plataforma apresentada agora é essencialmente um “robô-cientista”, que pode vir a ser empregado em pesquisa acadêmica, dizem seus criadores.
No trabalho, os pesquisadores mostram como o sistema foi capaz de reconstruir sozinho equações consideradas marcos importantes na história da ciência. Uma delas era uma das leis do astrônomo Johannes Kepler (1571-1630), para calcular o período orbital de planetas. Outra foi a de Irving Langmuir (1881-1957), que ganhou um prêmio Nobel explicando interações físicas entre gases e sólidos.
O sistema também conseguiu elaborar uma aproximação parcial de uma das equações do físico Albert Einstein (1879-1955), derivada da Teoria da Relatividade Especial. O computador inferiu uma regra sobre a chamda “dilatação do espaço-tempo”, que descreve como o tempo passa mais devagar para objetos em grande velocidade.
O AI-Descartes não tem ainda acesso aberto para cientistas de fora do projeto. Os primeiros resultados tinham sido anunciados em janeiro para círculos acadêmicos mais fechados e publicados discretamente na plataforma Arxiv.org, mas sem ter causado grande alarde.
Após ter sido submetido a revisão independente, um estudo com mais detalhes foi publicado nesta manhã pela revista “Nature Communications”, do grupo Nature.
“Mostramos como conseguimos descobrir leis subjacentes a partir de poucos pontos de dados, usando raciocínio lógico para distinguir entre fórmulas candidatas”, escrevem os autores do artigo. O grupo foi liderado por Cristina Cornelio, pesquisadora da divisão de inteligência artificial da Samsung, em Cambridge (Inglaterra).
No trabalho, os pesquisadores não chegam a sugerir que o AI-Descartes possa vir algum dia a substituir o aspecto mais criativo do trabalho criativo de cientistas, de pensar sobre a natureza mais profunda de suas descobertas e interpretar a realidade.
O novo sistema de IA se propõe a ajudar cientistas modernos na tarefa de encontrar aproximações matemáticas para explicar dados de experimentos ou observações.
Dados sujos
O AI-Descartes difere de projetos de IA populares, como o ChatGPT, pois não é adaptado para trabalhar com linguagem natural. Os cientistas precisam alimentá-lo com dados sistematizados e elaborar questões com um formalismo específico.
A contrapartida é que o sistema da Samsung e da IBM se mostrou bom em algo que o ChatGPT se sai mal: a resolução de enunciados matemáticos. Em comunicado, a equipe do projeto diz que está em seus planos equipar o AI-Descartes com capacidade melhor de lidar com linguagem natural: a ideia é que o sistema seja capaz de ler outros artigos científicos por conta própria.
Não é a primeira vez que engenheiros tentam usar computadores para elaborar hipóteses científicas. O projeto atual, porém, alega ter conseguido um resultado melhor em função de sua abordagem nova.