Quarta-feira, 30 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 7 de março de 2023
O Ministério do Interior do Irã anunciou nesta terça-feira (7) as primeiras prisões como parte da investigação sobre uma série de intoxicações que afetou várias estudantes no país durante três meses.
O vice-ministro do Interior, Majid Mirahmadi, apareceu nesta terça-feira na televisão estatal para anunciar a detenção de “várias pessoas” com base em “investigações do serviço de inteligência”. Mirahmadi não deu detalhes sobre suas identidades, as circunstâncias das prisões, nem qual o envolvimento dessas pessoas.
Mais tarde, porém, a pasta afirmou em um comunicado que os serviços de segurança e inteligência haviam identificado e detido “várias pessoas” suspeitas de preparar substâncias perigosas nas províncias de Cuzistão, Azerbaijão Ocidental, Fars, Quermanxá (oeste), Coração (leste) e Alborz (norte).
O comunicado associou os suspeitos aos recentes protestos no país ao afirmar que três dessas pessoas tinham antecedentes criminais, incluindo a “participação nos recentes distúrbios”.
A expressão é usada pelas autoridades para se referir aos protestos que explodiram após a morte de Mahsa Amini, uma jovem curda que morreu sob a responsabilidade de forças de segurança após ser detida por supostamente não seguir as regras de vestimentas aplicadas no país muçulmano.
Uma dessas pessoas, segundo o ministério, introduzia substâncias irritantes na escola por meio de seu filho e enviava fotos das alunas após as intoxicações para “meios de comunicação hostis” para “criar medo entre as pessoas e provocar o fechamento de escolas”.
O misterioso caso de envenenamento gerou indignação e apelos às autoridades para que tomassem providências a respeito. Também despertou preocupação internacional e pedidos de uma investigação independente.
Ao todo, “25 províncias e quase 230 escolas foram afetadas, e mais de 5 mil alunas e alunos foram intoxicados”, disse Mohammad-Hassan Asafari, membro da comissão parlamentar de investigação, à agência de notícias Isna na segunda-feira.
Os primeiros casos vieram à tona logo após protestos em todo o país pela morte de Mahsa Amini, de 22 anos. Muitas escolas foram afetadas.
As estudantes sofreram sintomas como irritação da garganta, dores de cabeça, dificuldade para respirar, fraqueza, arritmias ou impossibilidade de mover as extremidades, após inalarem um suposto gás. Algumas foram internadas.
Com isso, é grande o descontentamento popular, em especial, dos pais das alunas, que apontam para falta de eficiência das autoridades em interromperem os ataques, que parecem voltados a parar as aulas para meninas e adolescentes.
O líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, chamou os envenenamentos de “crime imperdoável” e deu ordens, na segunda-feira, para perseguir os responsáveis “sem piedade”.
O último caso, relatado pela agência de notícias Isna, afetou 40 estudantes do sexo feminino da cidade rebelde de Zaedã, no sudeste.
Nesta terça, pais, alunos e professores protestaram em frente às escolas pela falta de segurança em várias cidades do país, como Teerã, Isfahan, Karaj, Mashhad, Rasht, Sanandaj e Shiraz.
Segundo ativistas, alguns destes protestos foram dispersados pelas forças de segurança com o uso de canhões de água e gás lacrimogêneo, enquanto a imprensa oficial não informa sobre essas manifestações.
Na segunda-feira, o Ministério da Saúde do Irã tornou público um comunicado em que pediu calma para a população. “Menos de 10% dos casos apresentavam sintomas reais, e a maioria está relacionado com ansiedade”, afirmou o vice-ministro da Saúde do país, Saeed Karimi, que também faz parte da equipe que investiga os envenenamentos.
Acusação contra jornais
Enquanto isso, foram feitas acusações na justiça contra vários veículos de imprensa do Irã, como os jornais Shargh e Hammihan, pela difusão de “rumores” sobre as intoxicações. “Aqueles que difundem rumores enfrentarão as consequências legais”, garantiu o promotor geral de Teerã, Ali Salehi, segundo a agência Isna. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo e das agências de notícias AFP e Efe.