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Colunistas Lembranças que ficaram (15)

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Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Fazenda da Grama – Aqui Dom Pedro pousava…

Na madrugada do dia 16 de dezembro de 1970 cheguei, de Taxi, na fazenda onde morava minha cunhada Júlia e seu marido Leopoldo Heitor de Andrade Mendes, o então polêmico Advogado do Diabo (crime de Sacopã e caso Dana de Teffé) , no Estado do Rio de Janeiro, na localidade de Fazenda da Grama, município de Barra Mansa. Na época eu era Diretor Comercial da Cia. de Industrias Eletro-Químicas, de Esteio, que produzia Ácido Sulfúrico e Sulfato de Alumínio. Eu estava em SP onde tinha ido para uma entrevista de um novo emprego.

No dia seguinte, conversando fiquei sabendo da importância histórica daquele lugar. No ano de 1970 este vilarejo (Fazenda da Grama) já há muito tinha perdido sua importância política, mas guardava o charme de há 150 anos e sua história era orgulho para sua pequena população e as poucas casas que a compunham. As razões do orgulho, da história e do charme daquele lugar, vinham da época do Império do Brasil.

Dom Pedro I quando ficou como Regente e após como Imperador do Brasil e depois seu filho Dom Pedro II, quando viajavam do Rio para São Paulo, ou vice-versa, por terra, se hospedavam uma noite na ida e uma noite na volta, justamente nesse lugarejo que se chamou Fazenda da Grama. Ele, Imperador e o séquito que o acompanhava vinham do Rio, meio que costeando o litoral até Angra dos Reis e dali subiam o que restava da serra das Araras, pousavam na Fazenda da Grama e no dia seguinte seguiam viagem até Volta Redonda/Barra Mansa.

Assim era na volta quando retornavam de São Paulo. Vinham até Barra Mansa/Volta Redonda e desciam para Angra dos Reis, via Fazenda da Grama. Entenda-se, lógico, que esse era o percurso em suas viagens à cavalo. De Navio era direto do Rio até Santos, mas aí então tinham que subir a “muralha” de Santos, coberta de serração, por trilhas perigosas dentro da Mata Atlântica.

Então, na Fazenda da Grama tinha – não sei se ainda tem em 2024 – ( eu à conheci em 1970) um enorme casarão meio de pedra meio de tijolos, de dois pisos, sendo no térreo um imenso Salão de Refeições e de Estar, mais ou menos de 12 por 30, com local de lazer onde tinha (eu toquei nele-ainda estava lá) um belíssimo piano alemão de cauda e algumas peças de mobiliário, centenárias, como balcões, aparadores e sofás e no andar superior os aposentos do Imperador – uma espécie de suíte presidencial, completa, enorme (agora ocupada pela família que lá habita) – e no resto do espaço quartos e camas para os acompanhantes. A viagem de volta obedecia o mesmo ritual. Andando lá por dentro e ‘vivendo’ o ambiente e a história, quase dava para sentir a presença de alguém de capa e espada transitando por ali. O Casarão era com arquitetura bem típica da construção daquelas grandes fazendas. No estilo, nas aberturas, na decoração.

Depois estive lá com a família onde passamos uma temporada e convivemos com aquele povo bom e hospitaleiro. Nessa época o casarão era habitado e cuidado por dona Tereza e seu marido, um casal com jeito, comportamento, finura e trato social de uma Corte. Fazia a gente se sentir num ambiente palaciano.

Em 1972 minha cunhada mudou definitivamente para a cidade do Rio e nós nunca mais estivemos na Fazenda da Grama mas, ocasionalmente, de lá tínhamos notícias. Um lindo e aprazível lugar que lá está e guarda na sua história seus momentos de glória imperial…

A uns 50 metros deste lindo Casarão com ares palacianos, corre um riacho com um bom volume de água que a certa altura, ali mesmo, forma uma pequena queda d’água e uma piscina natural, de águas cristalinas. Em nossas visitas lá, minha mulher e meus filhos, nos banhamos e brincamos naquela queda e na “piscina” natural. Dona Tereza, Zeladora-moradora” do Casarão Palaciano, nos contou que Dom Pedro I ‘adorava’ banhar-se e brincar na água, nesse local, e que o povo das redondezas dele se aproximava e conversavam com ele.

Traziam-lhe frutas e doces caseiros que ele muito gostava e a todos recebia e atendia com alegria e cordialidade. Foi tão marcante esse comportamento que ainda nos dias de hoje as gerações sucedâneas, respeitam e conservam um especial carinho pela Monarquia.

É de se registrar como o ambiente, o local e a história que o envolve criam na nossa mente uma nítida sensação de viagem no tempo (tipo o filme “Em Algum Lugar do Passado”) ao ponto de parecer estar vivendo mais de 160 anos passados. Olhando no Google Maps, “voei” sobre o povoado que permanece lá, parado no tempo. Até me deu saudades. Foi bom ter andado por lá.

Na próxima quarta em Lembranças que ficaram (16), contarei a história curiosa de como me tornei concunhado do advogado do  diabo, protagonista de tão rumorosos casos jornalísticos.

Luiz Carlos Sanfelice, advogado

(e-mail:lcsanfelice@gmail.com)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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