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Por Redação O Sul | 23 de abril de 2022
Uma diretora de uma seção eleitoral na Carolina do Norte foi ameaçada por um líder local do Partido Republicano após se recusar a ajudá-lo a obter acesso a urnas de votação das eleições presidenciais de 2020. De acordo com informações do conselho eleitoral estadual, repassadas à Reuters, William Keith Senter ameaçou demitir ou reduzir o salário da funcionária caso ela não atendesse ao seu pedido — que é ilegal, devido à inviolabilidade das urnas.
Além destas falas, Senter também teria sido “agressivo, ameaçador e hostil” em duas reuniões que teve com a diretora de eleições Michella Huff, alvo de suas ameaças. O partidário republicano teria feito os ataques baseado em “falsas teorias da conspiração”, com alegações de que a eleição de 2020 teria sido fraudada contra o ex-presidente dos EUA, Donald Trump.
O fato, que não havia sido relatado anteriormente, é parte de um “esforço nacional” dos apoiadores de Trump na tentativa de conseguirem a realização de uma audição do sistema de votação, reforçando alegações de fraudes eleitorais.
Presidente do Partido Republicano no Condado de Surry, na cidade de Dobson, Senter disse à Michella que ela perderia o emprego caso se recusasse a acessar os tabuladores de votos do condado, segundo o Conselho Estadual de Eleições da Carolina do Norte, em respostas por escrito a Reuters.
Após recusar às investidas de Senter, Michella teria ficado abalada com a intimidação política que havia sofrido. Ainda segundo a Reuters, ameaças similares se tornaram comuns em todo o país desde as eleições de 2020, com mais de 900 mensagens ameaçadoras ou hostis dirigidas a funcionários eleitorais já levantados a partir de relatórios que mapeiam os casos.
“É uma pena que esteja sendo normalizado. Eu não esperava ver isso aqui em nosso condado. Estamos apenas tentando fazer nosso trabalho de acordo com a lei”, disse Michella à Reuters.
As exigências do Senter são uma potencial violação da lei estadual. Em um memorando em que responde aos apelos por uma “auditoria forense” das urnas, Mark Payne, advogado contratado pelo Conselho Eleitoral do Condado de Surry, escreveu nesta semana que era ilegal fornecer acesso às urnas para indivíduos não autorizados. Qualquer pessoa que ameace ou intimide um oficial eleitoral também pode enfrentar acusações criminais, de acordo com o estatuto estadual.
Chip
Senter e o conhecido conspirador eleitoral pró-Trump Douglas Frank se encontraram em 28 de março, alegando que “havia um ‘chip’ nas máquinas de votação”, que estaria ligado a uma torre de telefone celular em 3 de novembro de 2020, e que, de alguma forma, influenciou os resultados das eleições, informou o conselho eleitoral estadual, classificando a alegação como “desinformação fabricada”.
Em outro momento, em uma reunião pública à qual Michella não compareceu, Senter ameaçou cortar o salário dela. Dois dias antes de se encontrar com ela, Frank fez um discurso em Dobson, cidade rural de 72 mil habitantes, na fronteira norte com a Virgínia, onde falou sobre “teorias da conspiração desmascaradas sobre as eleições de 2020”, segundo o conselho.
No dia seguinte à reunião, Frank, um professor de matemática de Ohio, agradeceu a seus anfitriões “patriotas” em um post no aplicativo de mensagens Telegram sobre sua viagem à Carolina do Norte e disse que estava “deixando para trás uma fogueira queimando em boas mãos”. Procurados, Frank e Senter não quiseram se manifestar.
O conselho estadual é formado por três membros democratas e dois membros republicanos. Michella, uma ex-republicana, agora é registrada como independente. O presidente da comissão do condado, Bill Goins, se recusou a comentar as ações de Senter, mas confirmou que a comissão não poderia demitir Huff.
Patrick Gannon, porta-voz do conselho estadual de eleições, disse em comunicado que o conselho denunciou as ameaças contra Huff às autoridades estaduais, federais e locais e continuaria a relatar “qualquer tentativa de interferir nas eleições estaduais ou federais ou assediar ou intimidar funcionários eleitorais”.