Quinta-feira, 23 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 2 de maio de 2020
A atitude de Bolsonaro se deu em dois atos, segundo relatos de congressitas: primeiro, forçou a demissão de Sergio Moro (Justiça), que no começo da gestão chegou a ser considerado “indemissível”, justamente em um contexto de que tem a palavra final sobre cargos-chave. Antes da exoneração, ele havia deixado claro em reunião com todos os ministros que a prerrogativa de fazer nomeações no governo era dele.
Depois, reafirmou a quem ficou, em encontros coletivos e a sós, que ele irá distribuir postos de segundo e terceiro escalão ao centrão e que não aceitará recusas. A conduta do presidente foi confirmada por integrantes do governo.
Demonizado na campanha por Bolsonaro como sendo exemplo do que chama de velha política, formada por parlamentares adeptos ao “toma lá, dá cá”, o centrão reúne cerca de 200 dos 513 deputados e virou a esperança do presidente de, pela primeira vez, ter base de sustentação no Congresso.
Ao mesmo tempo em que promoveu uma ruptura pública com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), Bolsonaro passou a procurar um a um líderes e presidentes de partidos do grupo, formado principalmente por PP, PL, Republicanos, PTB e PSD —esse último nega fazer parte, mas integra oficialmente o bloco do centrão na Câmara, liderado pelo deputado Arthur Lira (PP-AL).
O repasse de cargos ao centrão perpassa secretarias estratégicas em ministérios e vai do Porto de Santos à Funasa (Fundação Nacional de Saúde).
O grupo aceitou de pronto as ofertas —ainda não entregues, devido à burocracia federal para as trocas e o prosseguimento de acertos específicos— e saiu em defesa do presidente no Congresso, rechaçando a possibilidade de abertura de processo de impeachment contra ele, situação que passou a ser aventada com mais força após a participação de Bolsonaro em atos de rua favoráveis ao fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal.
Para evitar esse risco, Bolsonaro precisa ter ao seu lado pelo menos 172 dos 513 deputados federais.
Em outra frente, o centrão também apoiou a queda de Moro, mas aí a rixa do grupo com o ex-xerife da Lava Jato é antiga. A operação baseada em Curitiba levou ao banco dos réus vários dos líderes do grupo, sob acusação de desvio de recursos da Petrobras.
O jornal Folha de São Paulo ouviu relatos de líderes do centrão e de ministros de Bolsonaro, que falaram sob condição de anonimato. Segundo eles, o presidente já foi cobrado pela relativa demora nas nomeações e, como resposta, disse a ministros que eles têm que abrigar os indicados pelo centrão, sob pena de perder apoios. Integrantes do Planalto informaram que os trâmites para que os nomes sejam publicados no Diário Oficial são demorados e que os indicados devem ser formalizados a partir da próxima semana.
Inicialmente, alguns auxiliares resistiram a entregar postos chaves de sua pasta. Segundo integrantes do centrão, os principais seriam Paulo Guedes (Economia), Tarcísio Freitas (Infraestrutura), Abraham Weintraub (Educação) e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional).
Esse último, que comanda pasta com obras em vários locais que serviriam de alavanca para o plano do governo de reaquecimento da economia no pós-pandemia, deve ter que ceder a Secretaria de Mobilidade ao Republicanos, ex-PRB, ligado à Igreja Universal do Reino de Deus. Outras secretarias da pasta são cobiçadas pelas demais siglas do centrão.
O jornal Folha de São Paulo perguntou ao ministro, por meio de sua assessoria, se Marinho concorda com a diretriz de Bolsonaro e se fez alguma ressalva ou estabeleceu alguma condição para a entrega dos postos. “As indicações para cargos no ministério são encaminhadas pela Secretaria de Governo após análise de critérios técnicos”, limitou-se a dizer a pasta.
Na Educação, Weintraub terá de ceder a presidência do FNDE (Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação) para o PP, além de diretorias do órgão para Republicanos e PL. Segundo relatos, quando foi avisado pelo presidente de que teria de abrigar os indicados, o ministro pediu a Bolsonaro para criar filtros que garantissem controle de gestão e mecanismos de governança nos órgãos.