Sexta-feira, 24 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 5 de fevereiro de 2021
Fortalecido pelo resultado das eleições para as presidências da Câmara e do Senado no início desta semana, o bloco de partidos do Congresso Nacional conhecido como “Centrão” retomou as articulações políticas para desmembrar o Ministério da Economia. O plano envolve ressuscitar a extinta pasta do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.
A exemplo de outras campanhas anteriores, o argumento se repete: é muita coisa para Guedes tocar sozinho e não dá mais para deixar um setor importante da máquina na mão de um único secretário. Segundo alguns líderes partidários, o episódio da recente saída da Ford do País é um dos exemplos de o quanto faz falta um ministério específico para a área.
Mas essa batalha promete ser dura: Guedes ainda é o ministro mais poderoso do governo de Jair Bolsonaro e conseguir retirar um fatia da pasta da Economia não será fácil.
E Guedes já reagiu às especulações. “Fora de cogitação” e “sem nenhum sentido”, classificou nesta semana o “Posto Ipiranga” de Bolsonaro sobre a pressão feita pelo Centrão para que o governo recrie o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. “Tudo não passa de fake news”, teria dito ele nos bastidores em Brasília.
No próprio Ministério da Economia, as reações contrárias ao desmembramento da pastaa foram bem contundentes e pessoas próximas a Guedes chegaram a afirmar que o ministro poderia até mesmo desistir do cargo caso as negociações para diminuir seu super-ministério prosperassem.
No Palácio do Planalto, auxiliares do presidente, que admitiam que a recriação da pasta estava na conta a ser paga ao Centrão pela campanha vitoriosa de Arthur Lira (PP-AL) ao comando da Câmara dos Deputados, baixaram o tom diante da resistência de Guedes e afirmaram que Bolsonaro estaria “pensando no assunto”.
Outros ministérios que “já descansam em paz”, como os do Trabalho, Previdência, Fazenda e Planejamento, tornaram-se secretarias subordinadas ao ministro desde o início da gestão Bolsonaro, que prometia enxugar a máquina pública.
Tema recorrente
Pressões políticas para o desmembramento não são inéditas no governo atual, mas até agora Paulo Guedes tem conseguido escanteá-las. Também não é a primeira vez que o presidente muda de discurso: na semana passada, durante um evento fechado à imprensa mas que foi filmado e divulgado por parlamentares, Bolsonaro admitiu que poderia criar novas pastas após a eleição do Congresso Nacional.
Na avaliação de membros da equipe econômica, uma recriação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio destruiria o projeto de abertura econômica e, ainda por cima, criaria um feudo de privilégios. Ou seja, caso atenda aos caprichos do “Centrão”, Bolsonaro poderia afundar de vez a agenda liberal de seu ministro.
Um dos argumentos do time de Guedes é de que a lógica do ministro, desde que assumiu o cargo, era colocar todas as pastas juntas para poder fazer uma reforma econômica ampla, que resultasse em um ambiente de melhoria de negócios e maior competitividade. E que não privilegiasse apenas um ou outro setor.