Sábado, 21 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 20 de junho de 2025
A ampla maioria dos economistas do mercado consultados pelo Estadão/Broadcast não vê espaço para retomada dos cortes na taxa básica de juros ainda este ano, projetando que a Selic (taxa básica de juros) deve encerrar 2025 em 15% ao ano, o maior nível desde julho de 2006.
O cenário é de Selic parada no atual nível para 40 de 47 casas consultadas pelo Projeções Broadcast. Uma parcela menor (sete instituições) estima janela para retomada do afrouxamento monetário ainda este ano, entre novembro e dezembro.
No comunicado da última quarta-feira (18), que se seguiu à decisão de elevar a Selic em 0,25 ponto porcentual, o Banco Central (BC) pontuou que, em se confirmando o cenário esperado, o ciclo de altas na Selic já se encerrou e que, agora, é preciso avaliar se o atual nível de restrição monetária “é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta”.
Após a divulgação do comunicado, bancos como o Barclays, BTG Pactual e Santander Brasil reforçaram a projeção de que o juro ficará parado em 15% ao menos até o final do ano.
Em relatório, a equipe de economistas do BTG Pactual escreveu que a elevação da Selic em junho veio em linha com o esperado, devido ao cenário de inflação persistentemente acima da meta, expectativas desancoradas, atividade econômica resiliente e pressões vindas do mercado de trabalho.
Segundo o banco, o comunicado também indica uma disposição do Copom em considerar novas altas na Selic, se necessário, mas o tom do documento “sugere um limiar elevado para um aperto adicional”, apontam.
Já o economista para Brasil do Barclays, Roberto Secemski, destaca que o foco da autoridade monetária no comunicado foi desencorajar os investidores a precificar cortes na Selic antes que haja uma convergência adequada da inflação para a meta.
“Como não acreditamos que o grau de desaceleração da atividade exceda o que o Copom incorpora em seus modelos, não esperaríamos um alívio significativo nas previsões de inflação do colegiado nos próximos meses, salvo uma apreciação cambial adicional (e sustentada)”, avaliou Secemski, em relatório.
Ele trabalha com cenário de retomada dos cortes na Selic apenas no primeiro trimestre do ano que vem, levando o juro a encerrar 2026 em 12,75%.
Já o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Daniel Xavier, postergou a expectativa de cortes na Selic do primeiro para o segundo trimestre do ano que vem após o comunicado.
Ele destaca que a expressão “bastante prolongado” usada pelo Copom ao se referir ao período de Selic parada foi atípica, o que reforça a postura cautelosa do BC. “Usualmente, nos ciclos recentes, o período de pausa foi de cinco a seis reuniões. Com essa terminologia, tudo indica que será um período maior”, afirma.
O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, por outro lado, avalia que deve haver uma janela, ainda que curta, para a retomada do afrouxamento monetário em 2025.
Ele considera que o cenário de inflação nos próximos meses deverá ser beneficiado pela apreciação cambial e a deflação nos alimentos, contribuindo para a moderação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) cheio, que deve encerrar o ano ao redor de 5%.
“Na modelagem do IPCA, com os efeitos de juros e se não houver nenhuma grande mudança no caminho, teremos uma projeção de inflação para 2027 mais baixa, se aproximando da meta”, diz ele, que por isso avalia que o período “bastante prolongado” de Selic parada não parece ser uma indicação para ser levada “a ferro e fogo”.
Vale ressaltar, contudo, que essa janela para afrouxamento monetário será curta, sem que haja possibilidade para cortes mais robustos ao longo de 2026, em meio ao cenário de disputa eleitoral.
“A maioria dos membros do Copom foi escolhida pelo presidente da República, então baixar juros no ano eleitoral poderia colocar um sentimento um pouco complicado em relação ao mercado”, afirma o economista, que, por isso, projeta Selic de 14% ao final do ano que vem. (Com informações do Estado de S. Paulo)