Quinta-feira, 30 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 17 de abril de 2022
A maioria dos eleitores do candidato da esquerda radical francesa Jean-Luc Mélenchon pretende se abster ou anular o voto no segundo turno das eleições presidenciais no domingo que vem, entre o atual presidente, Emmanuel Macron, e a candidata de extrema direita, Marine Le Pen. A tendência de voto foi apontada em uma consulta interna do partido de Mélenchon, o França Insubmissa.
De acordo com os resultados divulgados neste domingo (17), entre cerca de 215 mil simpatizantes do partido que participaram da consulta, mais de 66% disseram que vão se abster, deixar a cédula em branco ou estragá-la. Pouco mais de 33% disseram que votarão em Macron. A opção de votar em Le Pen não foi dada na consulta.
“Os resultados não são uma instrução para votar em ninguém. Todos vão concluir a partir disso e votar como acharem melhor”, escreveu a equipe de campanha de Mélenchon em seu site. No domingo passado, Mélenchon, que teve cerca de 22% dos votos, pediu a seus apoiadores que não votem em Le Pen, mas não chegou a defender Macron.
Macron, um centrista pró-União Europeia, chegou à Presidência em 2017 após derrotar Le Pen com facilidade, obtendo 66% dos votos. Na ocasião, os eleitores se uniram a ele no segundo turno para deixar os ultraconservadores fora do poder. Mélenchon também não declarou apoio a nenhum candidato naquela ocasião, e foi mais comedido em suas críticas a Le Pen.
O primeiro turno fez com que o segundo turno repita a disputa de 2017. Desta vez, no entanto, Macron enfrenta um desafio muito mais difícil. Seu estilo confrontador e políticas que muitas vezes tenderam para a direita aumentaram a resistência a um voto útil por parte da esquerda.
Pesquisadores estimam a taxa geral de abstenção para a eleição do próximo domingo em cerca de 30%, semelhante à do primeiro turno. Não estão claras quais são as consequências de uma taxa de abstenção alta no geral ou entre os eleitores de Mélenchon.
Tanto Macron quanto Le Pen lutam para alcançar eleitores além de seus próprios campos. Em 2017 e em 2002 — quando o pai de Marine, Jean-Marie Le Pen, levou a extrema direita ao segundo turno pela primeira vez na França— formou-se uma “frente republicana” de eleitores de todos os matizes para manter a extrema direita longe do Eliseu.
No sábado passado, uma pesquisa IPSOS-Sopra-Steria apontou que cerca de 33% dos eleitores de Mélenchon apoiarão Macron no segundo turno, com 16% apoiando Le Pen. Mas mais de 50% das pessoas questionadas se recusaram a dar sua opinião.
Corrupção
Le Pen e seus parentes foram alvo de denúncias de corrupção no sábado, envolvendo o desvio de dinheiro do Parlamento Europeu quando ela foi deputada por lá, entre 2004 e 2017.
De acordo com um relatório do Organismo Europeu de Luta Antifraude (Olaf), escrito há um mês e revelado pelo site francês Mediapart neste sábado, “o impacto financeiro dos fatos apurados chega a pelo menos € 617.379,00”. Os fatos denunciados incluem o uso de verbas europeias para eventos internos do partido e gastos pessoais.
Segundo o Olaf, as denúncias “podem dar origem a processos penais contra os ex-deputados (…) por atos fraudulentos que cometeram em detrimento do Orçamento da União”. Entre os possíveis delitos, o escritório cita “fraude”, “falsificação “, “quebra de confiança” e “desvio de fundos públicos” para fins políticos ou pessoais.
A candidata do Reunião Nacional (RN) nas eleições presidenciais é acusada de ter desviado € 136.993,99 e do dinheiro comunitário quando era deputada europeia, entre 2004 e 2017. Seu pai, Jean-Marie Le Pen, é suspeito de ter desviado € 303.545,76. O relatório também cita o membro da direção do RN Bruno Gollnisch pelo desvio de € 43.257,00, o ex-companheiro de Marine Le Pen, Louis Aliot, pelo desvio de € 2.493,22, e o grupo político de extrema direita Europa das Nações e Liberdades (ENL), suspeito de desviar € 131.089,00.