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Comportamento Manual do hipocondríaco digital: com a internet e as redes, as doenças e as paranoias caem no nosso colo

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Pessoas acordam e a primeira coisa é ver o celular.

Foto: Freepik
Pessoas acordam e a primeira coisa é ver o celular. (Foto: Freepik)

Já acordo conferindo o relógio sabichão: quantas horas de sono profundo tive esta noite? E de sono REM? Li em um post que é fundamental dormir ao menos sete horas; o problema é que outro dizia que essas sete horas têm de ser de sono profundo, não basta apenas deitar na cama. E agora?

Sou obcecado por qualquer artigo, matéria, podcast ou pitaco que fale de doenças, ainda mais as que podem surgir por algo que fiz errado. É sobre elas que matuto ao deitar: o que virá se eu não dormir direito? Parkinson? Alzheimer? Um AVC? Nem preciso dizer o que acontece com o meu sono com tanta informação desencontrada.

Antes, nós, os hipocondríacos, dependíamos apenas de meio sintoma e muita imaginação para alimentar nossas paranoias. A tossezinha que mostrava sinais evidentes de uma pneumonia, o sinalzinho que só um doido não perceberia se tratar de um câncer de pele em último estágio, a febre leve que indicava uma infecção pra lá de mortal.

Agora não. Com a internet e as redes sociais, as doenças — e as paranoias — caem no nosso colo, prontas para nos alugar um triplex na cabeça. É tanta informação aleatória sobre saúde que você acaba se achando um doutor, ao menos de orelhada. Para os hipocondríacos, o paraíso: um diagnóstico alarmista atrás do outro.

Vou da cama para o banheiro. Li que, para que o intestino funcione bem e não nos leve para a UTI, temos que comer muita fibra. Legumes, verduras, quem sabe serragem, talvez uma caixa de papelão. Sem isso, melhor pedir logo a extrema-unção.

Analiso a minha obra, por assim dizer. Fezes claras significam excesso de gordura, as escuras podem indicar uma hemorragia. Ou seria o contrário? Terei diabetes ou um câncer colorretal? Ou os dois, na promoção? Dou descarga, mas as preocupações continuam boiando.

O café da manhã da infância, de pão branco, manteiga e café com leite é uma sentença de morte, avisa a nutricionista-influencer. Tem que ter frutas, muitas frutas, um pomar inteiro na mesa. Pão? Tá doido? Café? Sem açúcar. Adoçante? Nem pensar. Penso no Crush que tomei em 1975 e no Diabólico que comi em 1982. Quantos meses de vida me restam?

Depois do café, os exercícios: se não fizer todo dia, em várias modalidades, é doença grave na certa. Não basta mais uma horazinha de academia, uma corridinha tranquila na orla ou na Lagoa. Tem que ser triatleta, no mínimo.

Musculação é fundamental para chegar aos oitenta levantando sozinho da cama. Para mim, chegar aos oitenta com vontade de levantar da cama já seria uma glória, mas vamos lá: dez agachamentos para não dar trabalho aos cuidadores. Para me incentivar, leio um textão com a lista de enfermidades que terei se não me exercitar três horas por dia, sete dias por semana. Teria sido melhor colocar em ordem alfabética.

O problema é que cada vez que leio um post, artigo, matéria ou mesmo escuto um pitaco sobre alguma doença, começo a ter os sintomas. Pontadas, formigamentos, dores. Outro dia encasquetei que estava com endometriose. O algoritmo já percebeu com quem está lidando e só me manda pedrada: síndromes inéditas, vírus novos, mutações mortais. Mal acabo de ler e já começo a escrever o testamento.

Só me resta esperar o diagnóstico da semana. Ou uma morte súbita. Pensando bem, sono mais profundo do que esse não existe. O relógio sabichão ficaria orgulhoso. (Leo Aversa/O Globo)

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