Sexta-feira, 19 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 4 de agosto de 2021
O Talibã conquistou mais territórios no Afeganistão nos últimos dois meses do que em qualquer momento desde que o grupo foi retirado do poder, em 2001.
O mapa de controle do Afeganistão tem passado por constantes transformações nos últimos 20 anos. Nas imagens a seguir, observamos as mudanças sobre quem controla quais áreas no país.
Nas últimas semanas, o Talibã parece encorajado pela saída progressiva das tropas dos Estados Unidos e vem tomando muitos distritos das mãos de forças governamentais.
Investigação do serviço afegão da BBC mostra que militantes radicais muçulmanos agora têm forte presença em todo o país, incluindo províncias do norte, nordeste e centro, como Ghazni e Maidan Wardak.
Eles também estão se aproximando de grandes cidades como Kunduz, Herat, Kandahar e Lashkar Gah.
O termo “controle” se refere aos distritos onde o centro administrativo, a sede da polícia e todas as outras instituições governamentais são controladas pelo Talibã.
Tropas dos Estados Unidos, de seus aliados na região e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) retiraram o Talibã do poder em novembro de 2001. À época, o grupo protegia Osama bin Laden e outras lideranças da Al-Qaeda ligadas aos ataques de 11 de setembro de 2001, nos EUA.
Apesar da presença internacional contínua na região e de bilhões de dólares em apoio e treinamento às forças do governo afegão, o Talibã se reagrupou e recuperou gradualmente seu poder em áreas mais remotas.
Suas principais áreas de influência ficavam ao redor de pontos tradicionais no sul e no sudoeste: as províncias do norte de Helmand, Kandahar, Uruzgan e Zabul. Além destas, também eram presentes nas colinas Faryab, no norte, e as montanhas Badakhshan, no nordeste.
Uma investigação da BBC em 2017 mostrou que, enquanto tinha controle total de vários distritos, o Talibã também era ativo em diversas outras partes do país, organizando ataques semanais ou mensais em determinadas áreas e sugerindo uma força significativamente maior do que estimativas anteriores.
Em torno de 15 milhões de pessoas, ou metade da população, viviam em áreas controladas pelo Talibã ou onde o Talibã era abertamente presente, lançando ataques regulares contra forças do governo.
Ganhando terreno
Embora os talibãs tenham agora mais controle do que nunca desde 2001, a situação tem mudado.
O governo se viu obrigado a abandonar alguns centros administrativos, onde não conseguiu resistir à pressão do Talibã. Outros territórios foram tomados à força pelos militantes.
Mas, sempre que o governo conseguiu reorganizar suas forças ou reunir milícias locais, conseguiu recuperou parte das áreas que haviam sido perdidas (nos locais não recuperados, ainda há confronto entre os dois lados).
Embora a maioria das tropas americanas tenha partido em junho, um grupo menor permanece em Cabul e a Força Aérea dos EUA realizou ataques aéreos contra posições do Talibã nos últimos dias.
As forças do governo afegão controlam principalmente as cidades e distritos localizados nas planícies ou nos vales dos rios, locais onde também vive a maioria da população.
As áreas onde o Talibã é mais forte são escassamente povoadas, muitas com menos de 50 pessoas por quilômetro quadrado.
O governo diz que enviou reforços a todas as grandes cidades ameaçadas pelo Talibã e impôs toque de recolher noturno de um mês em quase todo o país, em uma tentativa de impedir que o Talibã invada cidades.
Embora pareça estar se aproximando de cidades como Herat e Kandahar, o Talibã ainda não conquistou nenhuma delas.
Civis mortos e deslocados
Um número recorde de civis morreu como resultado do conflito no primeiro semestre deste ano.
A ONU atribui a maioria das 1.600 mortes de civis ao Talibã e outros grupos antigovernamentais.
Os confrontos também obrigaram muitas pessoas a abandonarem as suas casas: cerca de 300 mil foram deslocadas desde o início do ano.
A ACNUR, agência da ONU para refugiados, afirma que uma nova onda de deslocamentos internos nas províncias de Badakhshan, Kunduz, Balkh, Baghlan e Takhar ocorre em um momento em que o Talibã conquista grandes áreas em territórios rurais.
Enquanto algumas pessoas fogem para aldeias ou distritos vizinhos e voltam para casa dias depois, outras permanecem deslocadas por algum tempo.