Quarta-feira, 05 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 5 de janeiro de 2020
Um advogado japonês de Carlos Ghosn disse no sábado (4) que se sentiu “traído” pela fuga de seu cliente para o Líbano, mas ressaltou que entende seu gesto, provocado pela extrema dureza do sistema judicial japonês. “Inicialmente senti uma raiva imensa. Me senti traído”, escreveu Takashi Takano em seu blog, garantindo que não tinha ideia dos planos de fuga de seu cliente. Mas a raiva cedeu lugar a outra coisa quando pensei como era tratado pelo sistema judicial do país”, acrescentou. As informações são do jornal Folha de S.Paulo, da RFI e da agência de notícias AFP.
“Posso facilmente imaginar que, se outras pessoas com meios financeiros, relacionamentos e capacidade de agir vivessem a mesma experiência, fariam o mesmo ou pelo menos pensariam nisso”, acrescentou.
O ex-poderoso chefe da Renault e Nissan fugiu no último dia 29 do Japão, onde estava em liberdade sob fiança, após cerca de 130 dias de prisão, aguardando julgamento por crimes financeiros.
Desde o final de abril de 2019, Ghosn, que tem tripla nacionalidade libanesa, francesa e brasileira, vivia em prisão domiciliar em Tóquio, com uma proibição estrita de deixar o país.
Ele também não podia acessar a internet, exceto nos escritórios de seus advogados. Além disso, os juízes o proibiram de falar com sua esposa Carole, o que Takashi Takano considerou um “castigo” com o único objetivo de desmoralizá-lo.
O magnata destronado disse na terça-feira (31) que, ao sair do Japão, “deixou de ser refém de um sistema judicial japonês parcial onde prevalece a presunção de culpa, onde a discriminação é generalizada e os direitos humanos são violados”.
Há anos, organizações de direitos humanos como Anistia Internacional criticam o sistema judicial japonês, baseado, segundo eles, na repetição de interrogatórios para esgotar o réu.
As circunstâncias da fuga de Carlos Ghosn para o Líbano continuam confusas. Ele teria fugido em um voo particular do aeroporto de Kansai, perto de Osaka (oeste), para ir a Istambul, onde embarcou em outra aeronave que o levou a Beirute.
Saída ilegal
A saída de Carlos Ghosn do país foi “aparentemente ilegal” e “lamentável”, disse neste domingo (5) a ministra da Justiça do Japão, Masako Mori. Acusado de crimes financeiros, o ex-presidente da aliança Renault-Nissan fugiu para o Líbano.
Em um comunicado, a primeira manifestação oficial do governo desde a fuga de Ghosn, Mori prometeu uma “investigação total” para descobrir a verdade sobre como o executivo conseguiu deixar o país e também a revisão dos procedimentos de imigração no Japão, já que segundo a ministra, o caso é “injustificável”.
“O sistema judicial no Japão garante os direitos humanos básicos dos indivíduos e foi empregado adequadamente nos procedimentos, portanto não há espaço para justificar a fuga do acusado enquanto estiver sob fiança”, diz trecho do comunicado.