Quinta-feira, 11 de setembro de 2025
Por Redação O Sul | 10 de setembro de 2025
Estudos indicam que cerca de 8% dos casos de hipertensão no Brasil têm relação com o HAP.
Foto: FreepikDiagnóstico pouco conhecido, mas relativamente comum, o hiperaldosteronismo primário (HAP) é uma forma de hipertensão arterial cuja origem é hormonal. A identificação precoce é fundamental: os pacientes apresentam maior risco de complicações cardíacas graves e precisam de tratamento diferenciado. Diante disso, a Endocrine Society, dos Estados Unidos, atualizou suas diretrizes internacionais recomendando que todos os hipertensos sejam rastreados para HAP.
O documento foi apresentado pela primeira vez no Brasil durante o Congresso Brasileiro de Endocrinologia e Metabologia (CBAEM 2025), realizado nesta semana em Gramado. Flavia Amanda Barbosa, coordenadora do Departamento de Adrenal e Hipertensão da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), destaca que, em muitos casos, trata-se de uma hipertensão que pode ser curada.
“O HAP é uma causa frequente de pressão alta e conseguimos alcançar a cura na maioria das vezes quando o diagnóstico é feito precocemente. Diferente da hipertensão comum, que não tem cura e é apenas controlada com medicamentos, o HAP aumenta o risco de infarto, arritmia e AVC. Por isso, a detecção é essencial para reduzir esses riscos”, afirma.
Ao contrário da hipertensão convencional, geralmente associada a fatores como má alimentação, sedentarismo e tabagismo, no HAP a causa está nas glândulas suprarrenais (ou adrenais), localizadas acima dos rins e responsáveis pela produção da aldosterona.
“O paciente pode ter um pequeno tumor, geralmente benigno, que faz a glândula produzir aldosterona em excesso. Isso pode ocorrer em uma ou nas duas glândulas. Esse hormônio controla o sal no organismo e, quanto maior a quantidade de sódio, maior a pressão arterial”, explica Flavia.
Estudos indicam que cerca de 8% dos casos de hipertensão no Brasil têm relação com o HAP, o que corresponde a aproximadamente 4,2 milhões de pessoas. A prevalência pode chegar a 16,2% entre hipertensos de 18 a 40 anos e a quase 30% nos pacientes com pressão resistente aos medicamentos convencionais, segundo as novas diretrizes.
“A prevalência aumenta de acordo com a gravidade da hipertensão. Grande parte dos pacientes, porém, não recebe o diagnóstico e, consequentemente, o tratamento correto. É uma condição comum, mas com terapia específica capaz de reduzir riscos”, ressalta Madson Almeida, chefe do Laboratório de Endocrinologia Molecular e Celular (LIM25) da USP e diretor da Comissão Internacional da SBEM.
O HAP pode ser unilateral, quando afeta apenas uma glândula, ou bilateral, quando compromete as duas. No primeiro caso, que representa cerca de 40% dos pacientes, o tratamento é cirúrgico e pode levar à cura. Já o bilateral, responsável por 60% dos diagnósticos, é tratado com um medicamento que bloqueia a ação da aldosterona, a espironolactona, disponível no SUS.
“Quanto mais precoce o diagnóstico, maior a chance de cura. Mas, muitas vezes, os pacientes já chegam com complicações da hipertensão, como infarto ou doença renal. Nesses casos, o tratamento ainda ajuda a reduzir riscos e facilita o controle”, acrescenta Flavia.
O rastreamento indicado para todos os hipertensos é simples e envolve a dosagem de dois hormônios: aldosterona e renina. Se houver alteração, exames complementares confirmam ou descartam o HAP. No entanto, segundo os especialistas, o acesso a esses testes ainda é limitado no SUS.
“Nem sempre os exames estão disponíveis, e a investigação posterior exige serviços especializados e profissionais capacitados. Isso faz com que, muitas vezes, o próprio médico não pense no diagnóstico. É importante reforçar que a doença existe e deve ser considerada”, afirma Flavia.
Um dos sinais de alerta é a resistência da pressão arterial aos medicamentos convencionais. Em estágios mais avançados, pode ocorrer hipocalemia (perda de potássio), já que o excesso de sódio leva o corpo a eliminar potássio. A deficiência desse mineral pode causar câimbras, fraqueza muscular, arritmias e até paralisia.
Quanto às causas, a maioria dos casos é considerada esporádica, sem origem definida. “Há também formas hereditárias, nas quais o histórico familiar aumenta a probabilidade de desenvolvimento da doença”, completa Flavia.
(Com O Globo)