Quinta-feira, 19 de junho de 2025

Porto Alegre
Porto Alegre, BR
16°
Light Rain

CADASTRE-SE E RECEBA NOSSA NEWSLETTER

Receba gratuitamente as principais notícias do dia no seu E-mail ou WhatsApp.
cadastre-se aqui

RECEBA NOSSA NEWSLETTER
GRATUITAMENTE

cadastre-se aqui

Saúde Médicos da operadora de saúde Hapvida receberam orientações claras para incrementar a prescrição de cloroquina e convencer pacientes de que esse era o melhor tratamento a ser adotado

Compartilhe esta notícia:

Mensagens, áudios e relatos indicam pressão da Hapvida para médicos prescreverem kit covid. (Foto: Reprodução)

No dia 20 de janeiro, quando o país voltava a decretar medidas restritivas para enfrentar a segunda onda de Covid-19, os médicos da operadora de saúde Hapvida, a maior das regiões Norte e Nordeste, receberam um áudio de um dirigente da empresa com orientações claras para “aumentar consideravelmente” a prescrição de cloroquina e “fazer o convencimento” dos pacientes de que esse era o melhor tratamento a ser adotado, mesmo com a sua ineficácia comprovada.

“A gente tem uma luta muito grande nos próximos dias para aumentar consideravelmente a prescrição de cloroquina, o kit Covid, para garantir que a gente tenha menos pacientes internados”, diz o áudio gravado por um integrante da empresa e encaminhado pelo diretor da Hapvida Alexandre Wolkoff.

“Eu peço para vocês. A liderança de cada unidade, a diretoria médica, os regionais precisam liderar isso. A gente precisa subir a prescrição de cloroquina. Então, eu peço que vocês… não é só para Manaus, só para uma unidade ou outra, mas para todos as unidades, a gente (tem que) ter um aumento significativo da prescrição do kit Covid. Cada diretor médico da unidade é diretamente responsável por esse indicador”, acrescenta um dirigente da operadora.

Naquele momento, o Brasil ultrapassava a marca de mais de 220 mil mortes e assistia atônito ao colapso no sistema de saúde em Manaus. Mesmo diante das incertezas do rumo da pandemia, que dava sinais de recrudescimento, já havia uma certeza dentro da comunidade médica: o tratamento com cloroquina se mostrava ineficaz. Desde julho de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) vinha mostrando por meio de estudos que o medicamento não tinha nenhum efeito no tratamento da Covid-19 e passou a não recomendá-lo.

Apesar disso, a Hapvida reforçava que seria preciso ampliar a prescrição de tratamento precoce. Mensagens, planilhas e documentos de um grupo de WhatsApp de funcionários da operadora enviados entre março de 2020 e maio de 2021 sugeriam que a prática de pressionar médicos para recomendar o kit covid era recorrente.

Ao longo da pandemia, a empresa exibia gráficos de metas de recomendação de “kit covid”. Em novembro de 2020, outro diretor da Hapvida da Bahia, identificado como Eric Morais, enviou uma planilha que trazia a incidência da recomendação do “kit covid” em cada hospital do grupo, destacadas em diferentes cores.

Em vermelho, apareciam as porcentagens abaixo de 50% na receita dos medicamentos. Em amarelo, entre 50% e 70%. Em verde, os acima de 70%, ou seja, que bateram a meta. O número era calculado em cima dos atendimentos totais de cada hospital, o que mostra um monitoramento frequente.

“Preciso muito do apoio de todos vocês porque todas unidades ainda abaixo da meta”, alertou o diretor em mensagem enviada ao grupo.

Em dezembro, ele voltou a insistir:

“Para aqueles que tem como suspeita principal o Covid SEMPRE disponibilizem o kit Covid!”, escreveu ele, ressaltando a palavra “sempre”.

Em entrevista, o médico Marcelo Galvão, que trabalhou na Hapvida até abril deste ano, disse que não entendia as cobranças por metas de prescrição do kit “Covid”.

“Isso nunca existiu para nenhum tratamento ou medicamento. O errado é ser pressionado. O médico tem liberdade para receitar o que ele achar melhor”, disse ele.

Segundo outros médicos ouvidos, quem não prescrevia o tratamento precoce acabava entrando numa espécie de lista que envolvia punições como advertência e mudanças na escala de plantão. Algumas reclamações nesse sentido, inclusive, foram feitas diretamente no grupo de WhatsApp em que estavam os diretores.

“Tenho sofrido pressões para prescrição, inclusive com advertências referentes a redução de escala”, relata um médico no grupo, em março de 2021. “É sabido que vários colegas saíram da rede devido à prescrição do tratamento precoce”, comenta outro na mesma época.

O que a empresa diz

Em nota, a Hapvida afirmou que, “no passado, havia um entendimento de que a hidroxicloroquina poderia trazer benefícios aos pacientes”. Por isso, a empresa diz: “Houve uma adesão relevante da nossa rede, que nunca correspondeu à maioria das prescrições, no melhor intuito de oferecer todas as possibilidades aos nossos usuários”.

A companhia reiterou, no entanto, que a prescrição ocorria sempre durante as consultas e “de comum acordo entre médico e paciente, que assinava termo de consentimento específico em cada caso”. Como prova de que não obrigava a prescrição, a empresa cita que a receita do kit Covid nunca “correspondeu à maioria das prescrições”.

A operadora também fez questão de destacar que a adoção da hidroxicloroquina foi “sendo reduzida de forma constante e acentuada”. “Hoje, a instituição não sugere o uso desse medicamento, por não haver comprovação científica de sua efetividade. Mas segue respeitando a autonomia e a soberania médica para determinar as melhores práticas para cada caso, de acordo com cada paciente”, conclui o texto.

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Saúde

Agência Nacional de Saúde Suplementar instaura dois processos para apurar denúncias contra Prevent Senior
Brasil ultrapassa 597 mil mortes por Covid; média móvel completa uma semana em estabilidade
https://www.osul.com.br/medicos-da-operadora-de-saude-hapvida-receberam-orientacoes-claras-para-incrementar-a-prescricao-de-cloroquina-e-convencer-pacientes-de-que-esse-era-o-melhor-tratamento-a-ser-adotado/ Médicos da operadora de saúde Hapvida receberam orientações claras para incrementar a prescrição de cloroquina e convencer pacientes de que esse era o melhor tratamento a ser adotado 2021-10-02
Deixe seu comentário
Pode te interessar