Segunda-feira, 06 de maio de 2024

Porto Alegre
Porto Alegre, BR
22°
Partly Cloudy

CADASTRE-SE E RECEBA NOSSA NEWSLETTER

Receba gratuitamente as principais notícias do dia no seu E-mail ou WhatsApp.
cadastre-se aqui

RECEBA NOSSA NEWSLETTER
GRATUITAMENTE

cadastre-se aqui

Saúde Médicos relatam demissões, ameaças e até agressões verbais para receitar o “kit covid”

Compartilhe esta notícia:

Remédios com ineficácia comprovada na prevenção ou tratamento da doença são alardeados por autoridades como solução milagrosa para a pandemia.

Foto: hmdcc/Reprodução
Remédios sem eficácia contra o coronavírus continuam alardeados como solução para prevenir ou tratar a doença. (Foto: EBC)

Profissionais da medicina que trabalham na linha de frente do combate ao coronavírus relatam abusos frequentes para que receitem o chamado “kit covid”. Mesmo com ineficácia comprovada na prevenção ou tratamento da doença, remédios como cloroquina e ivermectina são ostentados por autoridades, gestores e até colegas como solução para o coronavírus.

A infectologista Tassiana Galvão, professora da PUC-SP, conhece de perto os prejuízos causados pela prescrição indiscriminada destes medicamentos. No dia 31 de março, ela viu o marido e também infectologista Danilo Galvão perder o avô para a doença, após uso de remédios do kit prescritos por outro profissional. O idoso morreu aos 79 anos, de insuficiência hepática.

Tassiana, que atua com controle de infecção hospitalar no interior de São Paulo, recusou-se a assinar protocolos para a adoção do kit em um hospital da região. Foi demitida no dia seguinte.

Seu relato é um entre vários de médicos pelo Brasil que têm sofrido múltiplas retaliações e pressões para adoção do tratamento. A intimidação vem de políticos populistas e colegas de profissão, com viés ideológico ou desatualizados, além de pacientes desesperados e iludidos pelas notícias falsas sobre o assunto.

“Na busca pelo voto e aprovação, políticos veem o kit como caminho fácil para agradar a população leiga. A solução para salvar a saúde e garantir retorno da economia”, diz Tassiana.

A pressão se traduz em demissões, ameaças, contratações e escalas de plantão condicionadas à prescrição do kit, assédio verbal e uma série de irregularidades praticadas por gestores públicos, privados e colegas de profissão, relatam alguns médicos.

Maria Flávia Saraiva, médica da família que atua na mesma região de Galvão, pediu demissão de um hospital em que trabalhava há quatro anos, devido as pressões que vinha sofrendo. Assim como colegas, ela conta que recebe constantes ameaças e xingamentos, inclusive em redes sociais, acusando-a de mentiras sobre os remédios e até assassinato deliberado de pacientes.

“Me posicionar contra um tratamento, que o presidente é a favor, parece que me coloca como inimiga do Estado. Minha família fica horrorizada com os ataques. Por isso muitos colegas se calam”, desabafa. Maria Flávia faz alusão à reiterada defesa da cloroquina e de outros medicamentos sem eficácia, promovidos pelo presidente Bolsonaro desde o início da pandemia.

O endosso do kit por autoridades aumentou a procura de pacientes pelos medicamentos, bem como a tensão e o tempo dos atendimentos. Em cidades do interior de São Paulo, o protocolo de tratamento precoce adotado oficialmente por municípios inclui 14 remédios.

“Metade da consulta é gasta desmentindo fake news”, conta a médica da família. “A insistência varia com a moda: antes era a cloroquina, agora ivermectina, amanhã quem sabe? Quando negamos, os pacientes xingam, brigam, vão na ouvidoria”, relata Maria Flávia.

‘Máquina de prescrições’

Nem mesmo estudantes de medicina têm passado ilesos pelas coerções. Um residente da região metropolitana de Cuiabá, que pediu para não ser identificado por receio de retaliações, relata que viu sua supervisora numa Unidade Básica de Saúde sofrer represálias, como redução de equipe, por se negar a prescrever o kit. Ao questionar o uso da ivermectina num dos atendimentos com outro supervisor, foi repreendido.

“O médico responsável me mandou calar a boca e disse que, se a gente não quer trabalhar, tem muita gente precisando de emprego. A ameaça é clara: ou aceita o absurdo ou está fora”, diz o residente.

Os gastos públicos com os medicamentos duvidosos, por prefeituras que adotaram oficialmente o protocolo, refletem-se na pressão sobre médicos para darem vazão aos estoques adquiridos. A pressão também assume a forma de receitas padronizadas, entregues em blocos para que médicos apenas carimbem e assinem a prescrição do kit, relatam profissionais.

Julia Canellas, médica em São Bento do Sapucaí (SP), tem o respaldo da Secretaria de Saúde da cidade para não receitar os remédios. Em sua atividade anterior em município próximo, no entanto, lidou com profissionais mais velhos que apoiavam o kit. Na cidade atual, são os pacientes quem vão à secretaria reclamar da falta de prescrições. “Estamos fazendo o melhor para eles, mas eles não veem”, lamenta.

Em comum, os médicos relatam insatisfação com a falta de apoio do Conselho Federal de Medicina (CFM), na pressão que vêm sofrendo por defenderem a ciência. Procurado, o CFM não respondeu sobre as alegações. As informações são do site G1.

tags: em foco

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Saúde

Rio Grande do Sul registra 828 novos casos de Covid-19 e mais 79 mortes provocadas pela doença
Saiba como funciona a glândula pineal, órgão enigmático que regula o nosso sono
https://www.osul.com.br/medicos-relatam-demissoes-ameacas-e-agressoes-para-receitar-tratamento-precoce-contra-a-covid/ Médicos relatam demissões, ameaças e até agressões verbais para receitar o “kit covid” 2021-04-18
Deixe seu comentário
Pode te interessar