Sábado, 27 de abril de 2024

Porto Alegre
Porto Alegre, BR
27°
Light Rain

CADASTRE-SE E RECEBA NOSSA NEWSLETTER

Receba gratuitamente as principais notícias do dia no seu E-mail ou WhatsApp.
cadastre-se aqui

RECEBA NOSSA NEWSLETTER
GRATUITAMENTE

cadastre-se aqui

Brasil Metade dos brasileiros desiste do programa Mais Médicos em até um ano e meio

Compartilhe esta notícia:

Em alguns locais, cubanos já estavam há três anos atendendo comunidades. (Foto: Karina Zambrana/ASCOM/MS)

Metade dos brasileiros (54%) que participaram do Mais Médicos desistiu do programa em até um ano e meio. Os dados, obtidos via Lei de Acesso à Informação, são referentes ao período de 2013 a 2017. O contrato prevê três anos de trabalho.

A alta rotatividade dos profissionais preocupa especialistas, especialmente depois que Cuba anunciou a saída do programa. O governo de Havana não aceitou as condições impostas por Jair Bolsonaro (PSL), que incluíam revalidação do diploma e mudanças na forma de remuneração.

Para efeito de comparação, mais da metade dos cubanos ficava mais de dois anos e meio no Mais Médicos.

O entra e sai de médicos é mais expressivo em São Paulo e Mato Grosso, onde sete a cada dez participantes deixou o programa em até um ano e meio —em SP, 40% não ficaram nem 12 meses.

A maioria dos desistentes (58%) atuava em periferias de capitais e regiões metropolitanas e áreas consideradas de extrema pobreza. É justamente neste último grupo de municípios que estava fatia significativa dos cubanos (35%, contra 25% do Brasil).

Para evitar distorções, foram desconsiderados da análise profissionais que participaram da parceria do Mais Médicos com o Provab. O programa, extinto em 2016, dava bônus nos concursos de residência médica para aqueles que trabalhassem um ano na atenção básica. Também não foram contabilizados os brasileiros formados no exterior que não fizeram a prova de revalidação do diploma.

Segundo especialistas, o perfil dos integrantes do Mais Médicos é de recém-formados, que querem trabalhar por um ou dois anos antes de começar a residência. Muitos deles se graduaram em instituições privadas e contrataram financiamentos para arcar com as mensalidades.

“Hoje temos uma legião de médicos que sai da faculdade com dívida muito alta. A preocupação deles é o pagamento da dívida, ou o abatimento. Então, depois de um ano e meio ganhando R$ 11 mil [valor aproximado da bolsa], eles vão embora”, diz Mauro Ribeiro, presidente em exercício do Conselho Federal de Medicina (CFM).

Outra hipótese a ser considerada são as condições de trabalho oferecidas em áreas mais afastadas e periferias de grandes cidades, onde a estrutura das unidades de saúde muitas vezes é precária.

“As dificuldades, a qualidade de vida, as condições de trabalho inadequadas certamente podem ser fatores. É um mercado com pleno emprego. O médico suporta um tempo, mas depois sai, vai fazer residência”, diz Mário Scheffer, professor da USP e autor do estudo Demografia Médica 2018, que traçou o perfil dos profissionais da medicina.

A alta rotatividade de médicos é considerada prejudicial em programas de atenção básica e saúde da família, em que o acompanhamento dos pacientes por longos períodos é fator importante.

“O cenário não é o ideal, mas, considerando a dificuldade histórica de fixar médicos no interior, que não é só do Brasil, [o governo] tem que trabalhar com essa característica [da rotatividade], pensar em como se garante a reposição [das vagas] e fazer com que a assistência seja adequada”, diz Scheffer.

O entra e sai de médicos é ainda pior em cidades afastadas e distritos de saúde indígena. Na UBS (Unidade Básica de Saúde) da terra indígena Massacará, em Euclides da Cunha (BA), a 330km de Salvador, os índios kaimbé lamentam a saída dos cubanos. A UBS está sem médico e não há previsão de substituição.

Antes dos cubanos os médicos não paravam no posto, que atende 1.175 índios, em sete aldeias. O médico cubano estava havia três anos no posto.

Segundo o secretário de Saúde de Euclides da Cunha, o enfermeiro Claudio Lima, os postos de saúde indígena são sempre os últimos a serem preenchidos. “Quando a gente contrata pelo município a rotatividade é enorme, às vezes saem em três meses”, diz.

Ele se preocupa com os novos médicos do programa. “Até agora se apresentaram 7, dos 16. É a primeira vez que vamos ter brasileiro com CRM [registro no Conselho Regional de Medicina] aqui. Eu receio que eles não fiquem muito tempo”, afirma.

Em situação parecida, a cidade de Juruá (AM), a 24 horas de barco de Manaus, tinha até esta quinta-feira (29) três vagas abertas no programa –e nenhum médico interessado em ocupá-las.

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Brasil

Copa Libertadores: o River Plate não aceita a mudança da final para Madri e irá apelar
Mulheres governam apenas 12% das cidades brasileiras
https://www.osul.com.br/metade-dos-brasileiros-desiste-do-programa-mais-medicos-em-ate-um-ano-e-meio/ Metade dos brasileiros desiste do programa Mais Médicos em até um ano e meio 2018-11-30
Deixe seu comentário
Pode te interessar