Domingo, 01 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 30 de maio de 2025
O Ministério Público Eleitoral de São Paulo denunciou o empresário Pablo Marçal (PRTB) à Justiça Eleitoral pela divulgação de um laudo médico falso contra Guilherme Boulos (PSOL) durante a eleição municipal do ano passado. O processo está em segredo de Justiça, mas a Promotoria confirmou que a denúncia foi protocolada na quinta-feira (29). Se for aceita pelo juiz, Marçal passará a ser réu.
Marçal e Boulos disputaram a Prefeitura de São Paulo no ano passado. Ao longo da campanha eleitoral, o candidato do PRTB fez insinuações contra Boulos sobre uso de drogas. A dois dias do primeiro turno, o então candidato do PRTB divulgou um documento falso em vídeos nas redes sociais que atestaria que o psolista teria consumido drogas.
As publicações foram feitas por Marçal na noite de 4 de outubro. O primeiro turno aconteceria no dia 6.
Em 5 de outubro, a Justiça Eleitoral reconheceu indícios de falsidade no documento e determinou a remoção do conteúdo das plataformas Instagram, TikTok e Youtube. Além disso, perícias técnicas do Instituto de Criminalística de São Paulo e da Polícia Federal concluíram que a assinatura do médico no documento era falsificada.
Por causa da mesma postagem, a Justiça Eleitoral cassou nessa sexta-feira (30) o mandato do vereador Rubinho Nunes (União) e o declarou inelegível por 8 anos por divulgar nas redes sociais o mesmo laudo médico falso que atribuía a Boulos o uso falso de cocaína e um surto psicótico.
A decisão é da 1ª Zona Eleitoral de São Paulo; cabe recurso e ele pode recorrer ainda no cargo.
A Polícia Federal indiciou Marçal em 8 de novembro pelo crime de uso de documento falso.
Em depoimento que durou cerca de 3 horas na Superintendência Regional da PF, na Lapa, Zona Oeste de São Paulo, Marçal negou qualquer envolvimento no episódio e disse que o suposto documento foi postado pela equipe dele.
Procurada, a assessoria do empresário afirmou à época que ele será declarado inocente. “É nítido como a velocidade do julgamento moral para aqueles que se identificam com a direita é significativamente mais rápido. Nunca testemunhei uma resposta tão célere em uma investigação como essa. O fato aconteceu no dia 04 de outubro e o indiciamento foi realizado em apenas 34 dias, um verdadeiro recorde. Isso nos leva a crer que, em um tempo ainda menor, seremos declarados inocentes. Sigo acreditando na Justiça, no Brasil e, acima de tudo, no nosso povo”, dizia o comunicado.
Os peritos da PF investigaram e compararam várias assinaturas ao longo de vários anos do médico José Roberto de Souza, CRM 17064-SP, que aparece como o responsável pelo suposto documento.
O médico morreu em 2022 e, segundo a filha, a oftalmologista Aline Garcia Souza, o pai nunca trabalhou na clínica Mais Consulta, na cidade de São Paulo, e jamais fez esse tipo de atendimento clínico de pessoas com dependência química.
Na conclusão grafotécnica, os peritos científicos da PF afirmaram que as duas assinaturas não foram produzidas pela mesma pessoa.
“Verificou-se a prevalência das dissimilaridades entre a assinatura questionada e os padrões apresentados, tanto nas formas gráficas, quanto em suas gêneses, não havendo evidências de que tais grafismos tenham sido escritos por uma mesma pessoa. As evidências suportam fortemente a hipótese de que os manuscritos questionados não foram produzidos pela mesma pessoa que forneceu os padrões”, disseram os peritos.
Luiz Teixeira da Silva Junior, sócio da clínica Mais Consultas, afirmou que nunca atendeu o deputado e negou ter participado da elaboração do documento. Em nota, o empresário disse que seu nome e o de suas empresas foram utilizados sem o seu consentimento “por pessoa que lhe é desconhecida”.
Silva Junior já foi condenado por falsificar diploma de curso de medicina e ata de colação de grau.
Em sua conta no Instagram, que foi desativada após a repercussão do falso documento, ele se apresentava como patologista clínico, perito judicial, escritor, diplomata adido de saúde, e aparecia ao lado de famosos.
Nas redes sociais, Silva Junior aparece em foto ao lado de Marçal usando um jaleco com o símbolo do Hospital Albert Einstein. Em nota, o hospital informou que “o profissional em questão nunca atuou em suas unidades ou em qualquer outra atividade administrada pelo Einstein.