Quinta-feira, 01 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 30 de abril de 2025
Com uma trajetória dividida entre o jornalismo, a vida intelectual e a literatura infanto-juvenil, a jornalista e escritora Míriam Leitão foi eleita nessa quarta-feira (30) para a cadeira de número sete da Academia Brasileira de Letras (ABL). Aos 72 anos, ela sucede o cineasta Carlos Diegues, morto em fevereiro.
A eleição aconteceu no Petit Trianon, sede da instituição no Rio de Janeiro, e foi conduzida com o uso de urnas eletrônicas cedidas pelo TRE-RJ. Em uma disputa acirrada, a nova imortal venceu no primeiro escrutínio, com 20 votos, superando o ex-senador e ministro Cristovam Buarque (14).
“Ainda estou impactada com a eleição, é uma honra gigante ingressar uma instituição que defende a literatura, o Brasil e a língua portuguesa. Eu queria fazer parte desse momento da casa, que é de muita abertura para o Brasil, para novos temas, novas ideias, e sempre mantendo a tradição e a memória institucional”, disse Míriam.
A jornalista fez questão de homenagear o cineasta Cacá Diegues, último ocupante da cadeira 7.
“É uma honra muito especial substituir um gigante como Cacá. Através de uma arte revolucionária ele combateu a intolerância e os extremismos. Passou muita gente importante, como Nelson Pereira do Santos, Euclides da Cunha e o patrono Castro Alves”, declarou.
Presença feminina
Seu ingresso amplia a presença feminina na ABL (são agora cinco mulheres no quadro de acadêmicos) e fortalece a tradição de escritores que pensam o Brasil.
A acadêmica Rosiska Darcy destacou que esta “é a eleição de uma mulher democrata em um pleito democrata. Nós só temos o que festejar. Fico contente que ela veio aumentar a presença das mulheres na academia, porque isso importa”.
Nascida em Caratinga, Minas Gerais, Míriam dedicou mais de cinco décadas a analisar o país em algumas de suas áreas mais decisivas, da economia à política, passando pela floresta. Ela acompanhou de perto planos econômicos, crises sucessivas, o impeachment de Collor e Dilma, e a redemocratização.
Filha de educadores, Míriam iniciou sua trajetória profissional na imprensa capixaba. Passou por Brasília e São Paulo antes de se estabelecer no Rio de Janeiro, em 1986. Ao longo de 53 anos de carreira, trabalhou em veículos como Gazeta Mercantil e Jornal do Brasil, e desde 1991 integra o Grupo Globo.
Prêmio Jabuti
Duas vezes vencedora do Prêmio Jabuti, o mais tradicional da literatura brasileira, Míriam tem 16 livros publicados de diversos gêneros literários. Suas obras mais recentes refletem os desafios de um Brasil polarizado. Reunião de textos escritos entre 2016 e 2021, “A democracia na armadilha: crônicas do desgoverno” (2022) traça o cenário de impasse institucional vivido pelo País e os temores dos caminhos autoritários.
Por seus comentários na imprensa, Míriam já sofreu ameaças dos dois espectros políticos. Seguidamente seu nome aparece entre os tópicos mais discutidos da rede social X, recebendo críticas e sendo alvo de fake news à esquerda e à direita.
Presa e torturada aos 19 anos durante a ditadura militar, a jornalista tem sido uma voz consistente em defesa da democracia e da liberdade de expressão — uma postura que lhe rendeu, no ano passado, o Troféu Juca Pato de 2024, concedido pela União Brasileira de Escritores (UBE) ao intelectual do ano.
Após lançar diversas obras de não ficção, jornalista realizou um sonho tardio ao se tornar ficcionista. Finalista do Prêmio São Paulo de Literatura de 2015, o único romance de Míriam, “Tempos extremos”, coloca em diálogo dois períodos traumáticos de nossa História: a escravidão e a ditadura militar. Paralelamente, ela também se consolidou como uma das principais autoras infanto-juvenis do Brasil.
“Cada livro infantil meu é um momento totalmente lúdico. Eu gosto de falar com esse público, eu gosto de a cada lançamento sentar no chão e ver como eles vão reagir ao livro. Nas apresentações nas escolas, já ouvi que nem pareço com a jornalista da televisão. Amo a correria do jornalismo, mas escrever é o que me completa”, explicou Míriam em uma entrevista de 2021.