Sábado, 08 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 19 de junho de 2016
Dois tiros sem nenhum autor. Dois mortos em uma casa vigiada por quatro seguranças sem nenhum culpado. O assassinato de Paulo César Cavalcante Farias e de Suzana Marcolino da Silva completa duas décadas na quinta-feira (23) com a mesma pergunta sem resposta: “Quem matou PC Farias?”.
Faz 20 anos que se busca uma solução para um crime que abalou a política brasileira nos anos 1990 e que, desde o júri em 2013, foi reconhecido como duplo homicídio. Até hoje, porém, não se sabe quem atirou no tesoureiro de campanha do ex-presidente Fernando Collor (1990-1992). Nem se houve mandante para o assassinato da peça central do esquema de corrupção que levou ao primeiro impeachment do País, em 1992.
PC foi encontrado morto na manhã de 23 de junho de 1996 pelos seguranças. Vestindo pijama, estava na cama, ao lado da namorada, em uma casa de praia em Guaxuma, na Zona Norte de Maceió (AL). Cada um levou um tiro no peito. A primeira hipótese dizia: Suzana, que havia comprado um revólver Rossi calibre 38, matou PC e depois se suicidou. O motivo: ele estaria determinado a terminar o namoro.
“De imediato as secretarias de Segurança e Justiça declararam que foi crime passional”, lembra George Sanguinetti, professor de medicina legal, coronel reformado da PM e um dos primeiros a contestar o suicídio. Horas antes de morrer, Suzana deixou recados no celular de um dentista com quem se consultava. “Espero um dia rever você, nem que seja na eternidade”, disse.
Os tiros não foram ouvidos, segundo os seguranças, pois era época de festas juninas. Um laudo do legista Fortunato Badan Palhares confirmaria a tese de homicídio seguido de suicídio. Havia só um porém: ele deixou de medir Suzana na exumação. Deu a ela 1,67 metro com base em uma ficha, e a PC, 1,63 metro.
Fotografias provavam que Suzana era mais baixa que PC: tinha 1,57 metro. O próprio legista escreveu em artigo que, se a altura estivesse errada, todo seu laudo também estaria. A diferença na altura, associada à trajetória do tiro contra Suzana, dificultava a tese de suicídio. Exames mostram que os elementos químicos da bala não estavam todos na mão dela.
“Eu sempre disse: passional foi o inquérito”, afirmou Sanguinetti. Ele defende que uma fratura comprova que Suzana foi esganada e morta. Para Luiz Vasconcelos, promotor que trabalhou no caso, as provas são incontestáveis. “Não é que eu tenha 99% de certeza, tenho 100% de certeza de que Suzana não matou Paulo César.”
Descartada a tese inicial de crime passional, os quatro seguranças de PC que trabalhavam no local das mortes foram a júri popular em 2013. Os jurados, apesar de terem entendido que uma terceira pessoa matou o casal e que os seguranças poderiam ter evitado as mortes, absolveram os réus.
O promotor que atuou no júri, Marcus Mousinho, pediu a anulação do julgamento. Disse que a decisão foi contrária às provas dos autos e que uma jurada soube, ainda confinada, que o marido havia sofrido ameaça. O recurso não foi analisado até hoje.
A tese do duplo homicídio, apesar do veredito de um júri, peca por não ter chegado aos autores. Para Mousinho, isso se deve a falhas da polícia na investigação, como não preservar a cena do crime. A suspeita já recaiu sobre Augusto Farias, ex-deputado e irmão de PC. Ele esteve na casa horas antes das mortes e chegou a ser indiciado, mas o inquérito foi arquivado em 2002, no Supremo. Augusto sempre negou envolvimento no crime.
Passadas tantas discussões, nem Sanguinetti nem os promotores acreditam que os responsáveis sejam identificados. Os irmãos de Suzana ainda têm essa esperança. “Ninguém quis resolver. Por que não? No Brasil, quando a polícia e a Justiça querem, se resolve”, afirmou a jornalista Ana Luiza Marcolino, 56, irmã de Suzana. (Folhapress)