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Brasil Mulher presa durante o regime militar no Brasil foi mais torturada que as outras presas políticas por ser homossexual

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Ex-escriturária passou oito anos sem sair de casa e hoje recebe indenização. (Crédito: Reprodução)

Presa pela ditadura aos 20 anos, em julho de 1974, a então escriturária Sandra Carnio, que trabalhava no escritório de uma vinícola, passou 12 dias detida nas instalações do Doi-Codi (Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna), no quartel do II Exército em São Paulo.

Foi submetida a uma série de torturas: pau de arara, choque elétrico e cadeira do dragão, outra modalidade de descargas elétricas emitidas por fios espalhados no corpo da pessoa. Sandra também foi ameaçada com um revólver na cabeça, encapuzaram-na e não a deixavam dormir. A violência deixou marcas. A tortura física e psicológica ficou ainda mais cruel quando os agentes que a subjugavam perceberam que ela era homossexual.

Sandra hoje tem 62 anos e vive uma relação de 34 com sua companheira. Ao lembrar o período, não vincula a tortura exclusivamente ao fato de ser homossexual. Ela também não se vitimiza. Tem a convicção de que apanharia de qualquer maneira. “Era alvo de chacota. Não sou uma pessoa fisicamente feminina. Logo perceberam. Exploraram isso também, mas não quero atribuir só a esse fato. Eu ia apanhar de qualquer jeito”, contou. Ainda no Doi-Codi, ela foi alvo de simulação. Em um gesto de provocação, colocaram uma grávida em sua cela. A mulher também era vítima de tortura e chegaram a acusar Sandra de ter forçado relações íntimas com a moça. “Ela apanhou muito na minha frente. Foi levada para o hospital abortando. Quando o filho nasceu, a criança não tinha expressão. Não chorava.”

 
“Não foi fácil reconstruir minha vida.”

Sandra não era uma militante de esquerda. Foi presa e levada para depor como testemunha de ações de subversão de um primo. Traumatizada pelos dias de prisão, conta que ficou oito anos seguidos sem sair de casa. Só o fazia em caso de extrema necessidade. Por conta disso, perdeu o emprego.

“Quando saí da cadeia, ninguém acreditava em mim. Me execraram. Parecia ter uma doença contagiosa. Não foi fácil reconstruir minha vida. Não tinha dinheiro para me tratar. Fui eu mesma tentando me curar. Já tive sorte em sair viva.” Ela guarda datas e horas de tudo o que viveu. Recorda-se de ter sido levada de seu local de trabalho, em 1974, pelo temido Raul Careca, a alcunha do delegado do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) Raul Nogueira de Lima, que era integrante do CCC (Comando de Caça aos Comunistas).

Mas, até para buscar a reparação pelo que passou, não foi fácil. Só em 2008 Sandra protocolou o pedido na Comissão de Anistia. Seu caso foi julgado há aproximadamente três meses e ela, pela primeira vez, teve oportunidade de contar o que viveu e, assim, aliviar o drama por que passou.

“Tirei um peso da minha cabeça. Sempre tive muito medo de contar tudo o que havia ocorrido. Mesmo vivendo em uma democracia. Fui encorajada por alguns amigos.”

Indenização.

Pela perseguição que sofreu e os danos à sua vida profissional, Sandra teve aprovado o direito a uma indenização mensal de 1,5 mil reais e retroativos, que são os atrasados pelo período em que foi prejudicada. A soma é de cerca de 200 mil reais.

“Mas não há dinheiro que pague. O fato de ter comparecido a uma comissão, ver o Estado reconhecer que errou no meu caso e me pedir desculpas é magnífico. Eu me senti redimida.” (AG)

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