Segunda-feira, 26 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 24 de janeiro de 2018
Às 22h do dia 18 de janeiro, Jonny Gould subiu ao palco do Dorchester Hotel, em Londres (Inglaterra). “Bem-vindos ao evento menos politicamente correto do ano”, ele gritou.
O narrador de esportes estava lá para apresentar um leilão de caridade — peça central de um sigiloso evento anual, o Presidents Club Charity Dinner.
O propósito oficial do evento é arrecadar dinheiro para causas meritórias, como o Great Ormond Street Hospital, um hospital infantil renomado mundialmente, no bairro londrino de Bloomsbury.
Os itens em leilão incluíam um almoço com o ministro do Exterior britânico Boris Johnson, e um chá vespertino com Mark Carey, presidente do Banco da Inglaterra. Mas o evento de caridade em questão é diferente de todos os outros.
É exclusivo para homens. Uma noite black tie. Na quinta-feira (18), 360 figuras dos negócios, políticas e finanças britânicos participaram do evento, e o entretenimento incluía 130 hostesses, ou recepcionistas, especialmente selecionadas.
Todas as mulheres são instruídas a usar roupas pretas sumárias, com roupas de baixo combinadas, e saltos altos. Em uma festa pós-leilão, muitas delas — algumas das quais estudantes que tentam faturar algum dinheiro extra — foram bolinadas, molestadas sexualmente e receberam cantadas.
O evento é um dos pontos principais do calendário social londrino há 33 anos, mas o que acontece por lá não costuma ser reportado — o que parece incomum, para um evento de arrecadação de fundos dessa escala.
As questões que surgiram sobre o evento ganharam destaque devido ao atual clima de negócios, no qual bastiões de assédio sexual e de objetificação institucionalizada das mulheres estão sendo demolidos.
O “Financial Times” na semana passada enviou duas pessoas clandestinamente para trabalharem como hostesses no evento. Repórteres também conseguiram acesso ao salão de jantar e bares anexos.
Por seis horas, muitas das hostesses foram alvo de bolinações, comentários lascivos e pedidos repetidos de acompanharem convidados aos seus quartos no Dorchester.
Elas reportaram que homens repetidamente colocaram as mãos embaixo de suas saias; uma hostess disse que um participante lhe mostrou o pênis durante o evento.
Convidados
O conglomerado publicitário WPP patrocinou uma mesa durante o evento, como costuma fazer já há alguns anos. Martin Sorrell, seu presidente-executivo, não estava presente este ano, embora tenha comparecido no passado.
Andrew Scott, vice-presidente de operações do grupo para a Europa, comandava a mesa, na ausência dele. Outras empresas que adquiriram mesas incluíam a CMC Markets, uma companhia de apostas com ações cotadas na Bolsa de Londres; e a Frogmore, uma empresa londrina de investimento imobiliário.
O “Financial Times” viu um mapa da distribuição de convidados pelas mesas do evento, na semana passada, e entre os inscritos havia figuras conhecidas dos negócios britânicos como Philip Green, do Arcadia Group; Peter Jones, astro do reality show “Dragon’s Den”; e Tim Steiner, que comanda a Ocado.
A lista de convidados que o mapa de mesas mostrava incluía Henry Gabay, fundador do fundo de cobertura Duet Grop; e Makram Azar, que comanda as operações do banco Barclay’s no Oriente Médio. Do mundo da política, havia Nadhim Zahawi, indicado recentemente como subsecretário de Estado para a criança e a família; e Jonathan Mendelsohn, membro trabalhista da Câmara dos Lordes e arrecadador de fundos para seu partido. Não está confirmado que todos os nomes da lista tenham comparecido ao evento.
Caridade
O objetivo de arrecadação de fundos é elogiável, e itens prestigiosos são oferecidos para leilão. Em suas três décadas de existência, o Presidents Club arrecadou mais de 20 milhões de libras para caridade. O evento arrecadou mais de 2 milhões de libras.
O fundo de caridade da organização tem dois copresidentes: Bruce Ritchie, um incorporador de imóveis de Mayfair, fundador da Residential Land; e David Meller, do Meller Group, especializado em produtos de luxo, que também faz parte do conselho do Departamento da Educação e do Fundo para Londres presidido pelo prefeito da cidade.