Segunda-feira, 05 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 10 de junho de 2023
A prática de exercícios físicos como musculação pode prevenir ou ao menos atrasar o aparecimento de sintomas de Alzheimer e funciona como uma terapia simples e acessível para pacientes com a doença. A conclusão foi publicada por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Federal de São Paulo (Unifesp) na revista Frontiers in Neuroscience.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) também recomenda o exercício resistido como melhor opção para a manutenção do equilíbrio e da postura e, consequentemente, prevenção de quedas. O exercício resistido, como a musculação, é caracterizado por contrações de músculos específicos contra uma resistência externa. Ele é considerado uma estratégia essencial para aumentar a massa muscular, a força e a densidade óssea. Além disso, ajuda a prevenir a fraqueza muscular, facilitando as tarefas do dia a dia.
Para observar os efeitos neuroprotetores dessa prática, os pesquisadores fizeram experimentos com camundongos transgênicos que têm uma mutação responsável pelo acúmulo de placas beta-amiloide no cérebro. Essas proteínas se agrupam no sistema nervoso central, comprometem a transmissão de sinapses e causam danos aos neurônios, marcas típicas da doença de Alzheimer.
Durante o estudo, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), os animais foram treinados para subir escadas com cargas acopladas nas caudas. O exercício mimetiza o que pode ser feito em equipamentos utilizados em academias. No fim de quatro semanas, exames com amostras de sangue dos camundongos mostraram que o teor do hormônio que equivale ao cortisol em humanos (cujo aumento está relacionado ao estresse e a um risco maior de desenvolver de Alzheimer) foi normalizado. Ele se igualou ao do grupo-controle, com animais saudáveis. A análise do cérebro revelou também diminuição na formação de placas beta-amiloide.
Confirmação
“Isso confirma que a atividade física pode reverter alterações neuropatológicas que causam os sintomas clínicos da doença”, diz o coautor do estudo Henrique Correia Campos. “Observamos também o comportamento dos camundongos para avaliar sua ansiedade em campo aberto e vimos que o exercício resistido diminuiu a hiperlocomoção”, diz Deidiane Elisa Ribeiro, pesquisadora do Laboratório de Neurociências do IQ-USP, que divide a primeira autoria do artigo com Campos. Esse movimento é interpretado como a agitação característica de alguns pacientes com Alzheimer ou outro tipo de demência.
“O exercício físico resistido se confirma cada vez mais como estratégia efetiva para evitar o surgimento dos sintomas de Alzheimer esporádica (não associada a mutação herdada), que é multifatorial e pode estar relacionada ao envelhecimento, ou para retardá-los nos casos da forma familiar da doença”, diz Beatriz Monteiro Longo, professora de neurofisiologia da Unifesp e coordenadora do trabalho. “A principal possível razão para isso é a ação anti-inflamatória.”