Quarta-feira, 24 de setembro de 2025
Por Redação O Sul | 22 de setembro de 2025
Além de ter mantido sua projeção para a inflação do primeiro trimestre de 2027 inalterada em 3,4%, a despeito da melhora da inflação corrente e das perspectivas à frente sinalizadas pela pesquisa Focus, o Banco Central (BC) destacou em seu comunicado da última quarta-feira que o cenário externo segue incerto, enquanto o interno apresenta um mercado de trabalho ainda resiliente.
Para o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Daniel Xavier, o comunicado referendou a expectativa de que o espaço para a retomada dos cortes na Selic só deve aparecer após o primeiro trimestre do ano que vem.
“A ideia que o comunicado passou é de que o Copom não está confortável em discutir qualquer chance de cortar o juro. Ele não vê isso no cenário e não é o que se discute lá dentro”, diz Xavier.
Em linha com boa parte do mercado, ele chama a atenção para o fato de a projeção de inflação do BC para o primeiro trimestre de 2027 ter se mantido em 3,4%, o que reforça esse discurso cauteloso. “Historicamente, o BC considera como ‘ao redor da meta’ um desvio de no máximo 0,20 ponto porcentual nas projeções de inflação. Ou seja, a mensagem é de que ele ainda está desconfortável.”
O Bradesco também avalia que o comunicado do Copom trouxe poucas mudanças e que o BC segue prezando por um discurso cauteloso, o que ficou evidente pela manutenção das suas projeções de inflação para o horizonte considerado relevante para a política monetária – “mesmo diante da melhora nos indicadores correntes”.
“Desde a última reunião (em julho), houve queda nas expectativas de inflação, no preço do petróleo e na taxa de câmbio, fatores que tenderiam a reduzir a projeção do modelo. Isso sugere que o BC pode ter ajustado parâmetros como o hiato do produto ou a taxa neutra de juros”, sugere o Bradesco, cujo cenário-base é de início dos cortes na Selic apenas em janeiro, com expectativa de juro básico em 11,75% no fim de 2026.
O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, por sua vez, manteve seu cenário-base de corte no juro pelo BC já em dezembro. Ele ressalta, porém, que essa projeção pode mudar, a depender do conteúdo da ata da reunião e do novo Relatório de Política Monetária (RPM), que serão publicados na próxima semana.
Em linha coma leitura majoritária do mercado, o economista da Nova Futuro corrobora o tom um pouco mais duro que o esperado no comunicado de quarta-feira do BC. A grande surpresa no comunicado, segundo ele, foi o cenário de projeções do IPCA, porque o mercado já esperava uma redução para o primeiro trimestre de 2027 para algo próximo de 3,3%”, observa.
“Há a hipótese de que o BC tenha revisado o hiato do produto para cima, o que de certa forma não conversa muito com os últimos dados da atividade, mas conversa com o mercado de trabalho. Essa seria uma visão bem mais dura do comunicado da última quarta-feira.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.