Terça-feira, 30 de setembro de 2025
Por Redação O Sul | 18 de abril de 2020
Conforme o vírus avança pela América Latina, países tentam diferentes abordagens para manter as pessoas fora das ruas
Foto: ReproduçãoHomens por toda parte. Homens na padaria, homens de bicicleta, homens nos parques, homens nos corredores do supermercado. “É estranho”, disse a enfermeira Adriana Pérez, de jaleco, esperando no banco. Ela é a única mulher à vista. “Mas está funcionando.”
Bogotá, capital da Colômbia e maior cidade do país, juntou-se ao Panamá essa semana ao instituir uma medida de prevenção do coronavírus com base no gênero para limitar o número de pessoas nas ruas. Nos dias ímpares, os homens podem sair de casa para tarefas essenciais. Nos pares, é a vez das mulheres.
A medida é adotada em um momento em que cidades de toda a América Latina enfrentam dificuldade para tirar as pessoas das ruas, apesar da quarentena que foi ordenada já há semanas na maioria dos países.
O vírus tem atingido a região mais lentamente, mas seus efeitos começam a ser sentidos com força brutal em alguns lugares, em especial o Equador, onde centenas morreram nas semanas mais recentes, especialmente em Guayaquil, epicentro da pandemia no país.
A Colômbia tem cerca de 3 mil dos mais de 60 mil casos da América Latina, a maioria deles concentrada em Bogotá. Para deter a disseminação do vírus, alguns países da região começaram a prender aqueles que violam a quarentena. Outros instituíram toques de recolher. A capital da Colômbia tenta a separação entre os gêneros.
São feitas exceções para aqueles que trabalham nas indústrias essenciais, como a de alimentos e a de saúde, e outras isenções para casos especiais. Passeadores de cachorro de qualquer gênero podem sair por 20 minutos. Mas, fora isso, quem for flagrado violando a regra recebe multa de US$ 240, o equivalente a um mês de salário mínimo na Colômbia.
A prefeita de Bogotá, Claudia López, primeira mulher a liderar a cidade e também a primeira política declaradamente gay a fazê-lo, disse que as pessoas transgênero podem seguir a regra de acordo com o gênero com o qual se identificam. A ordem da saúde diz que as autoridades devem respeitar “diferentes manifestações de gênero”. A prefeita descreveu a medida como a maneira mais fácil de dividir a população de acordo com critérios que a polícia pode fiscalizar.
Durante os dois primeiros dias da medida, a polícia repreendeu 104 mulheres e 610 homens por terem violado a lei, de acordo com a prefeita López. Os infratores devem pagar a multa em um prazo de até cinco dias, ou podem ser levados ao tribunal.
O Peru tinha adotado uma medida parecida, mas o presidente Martín Vizcarra a cancelou depois de críticas terem apontado para a discriminação contra pessoas transgênero.
No início do mês, a Human Rights Watch criticou a política de separação de gêneros adotada no Panamá, dizendo que a polícia usou a regra para deter e multar uma mulher transgênero que saiu de casa no dia designado para as mulheres. De acordo com o grupo, a polícia a deteve “porque a informação apontando o gênero ‘masculino’ no documento dela não condizia com sua aparência”.
A medida adotada na Colômbia lembra a mais conhecida medida de trânsito de Bogotá, que institui o rodízio de veículos de acordo com o último número da placa. Bogotá, cidade de 8 milhões de habitantes, costuma ter um dos piores problemas de congestionamento do mundo, e o rodízio de veículos é uma das características que define sua vida urbana em momentos de normalidade.
O país já está em quarentena há quase um mês, e a medida limitando o deslocamento tem sido particularmente difícil para os trabalhadores informais, que dependem do rendimento do dia ou da semana para sustentar suas famílias.