Quarta-feira, 24 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 30 de março de 2020
A médica Cláudia Fam Carvalho.
Foto: DivulgaçãoRecebi um meme que dizia “se você não está confuso, não está bem informado”. Foi engraçado, ri, estamos todos sem saber direito como essa pandemia irá evoluir aqui no Brasil e certezas não temos. Mas me preocupa bastante ver uma onda tipo “paz e amor” que se formou nos grupos de WhatsApp e mídias sociais. São tempos difíceis, muita gente tensa, muitas brigas, porém também não podemos nos furtar de se posicionar atrás do guarda-chuva de ser “light”, “estamos todos confusos”. Estamos confusos, porém uns bem mais que outros.
Parece que estou na contramão do mundo. Enquanto as pessoas, nesse momento, acham prudente não opinar, resolvi subitamente colocar minhas considerações para o mundo. Habitualmente sou considerada uma pessoa que fala pouco e participa pouco de grupo de WhatsApp.
Tenho apenas o Instagram, onde posto fotos dos meus filhos e, na maioria das vezes, sem escrever legenda. Não gosto de me expor. Entendo e respeito à diversidade de pensamento das pessoas, e sei que a minha opinião vale para mim em condições normais da CNTP. Mas nessa crise mundial me senti obrigada a colocar a minha visão, no sentido de tentar explicar o que está acontecendo, como médica e cidadã.
Não me furtei da minha responsabilidade de comunicar o que eu sabia e entendia. Escrevi para grupo de amigas, grupos das mães do colégio, grupo da praia, colegas e assim vai….Até para o jornal escrevi, tamanha minha vontade de reiterar as recomendações dos órgãos de saúde.
O mundo sofre uma ameaça grave, do ponto de vista da saúde e da economia. Precisamos urgentemente ouvir as sábias palavras do ministro Mandetta e observar o que foi visto nos países onde a pandemia começou antes. A quarenta ainda é a melhor estratégia, salvando vidas preciosas, possibilitando que as pessoas se contaminem aos poucos , de forma linear e não exponencial, para que o sistema de saúde consiga suportar. Tudo o que é possível está sendo feito: preparo de leitos de UTI, aquisição de testes, protocolos de uso de medicações.
Existem cientistas do mundo inteiro trabalhando dia e noite atrás da cura. Se vai dar certo, não sei. Ninguém sabe. Porém esse é o caminho certo a se seguir nesse momento, a luz do conhecimento atual. Pessoas questionam como ficará a economia: também me questiono, não sei.
Mas, certamente, liberando o isolamento, a economia não melhoraria também. Estamos em crise no mundo inteiro, uma crise sem precedentes. Precisamos usar a cabeça, a inteligência e buscar a saída menos dolorida. Inevitável a dor.
* Cláudia Fam Carvalho Médica Psiquiatra e Psicoterapeuta Membro da APRS (Sociedade de Psiquiatria do Rio Grande do Sul) e do Celg (Centro de Estudos Luís Guedes).