Sábado, 18 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 28 de dezembro de 2020
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) prevê entregar 210,4 milhões de doses da vacina contra covid-19 no próximo ano, segundo Nísia Trindade Lima, presidente do laboratório público, vinculado ao Ministério da Saúde. Ela reconhece, porém, que a imunização da população contra o novo coronavírus deve se estender até 2022.
Nísia é uma entusiasta do Plano Nacional de Imunização, do qual a Fiocruz é responsável pela produção de 10 das 19 vacinas. Neste sentido, mesmo a instituição que lidera tendo acordo de produção com laboratório AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford, não embarca em disputas
políticas na corrida pelo imunizante. Sobre a demora na divulgação da eficácia na testagem da CoronaVac, do Instituto Butantan e da chinesa Sinovac, é categórica: “Eu não colocaria nenhuma vacina sob suspeita”.
A partir da publicação de artigos em revistas científicas e da aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Nísia diz que é certo que os imunizantes foram checados por especialistas independentes: “Todas as vacinas que forem registradas são seguras, com diferentes porcentuais de eficácia, mas certamente com a possibilidade de evitar o adoecimento, a
morte, que é uma grande preocupação”.
Nísia é uma estudiosa da história da saúde pública no Brasil, com doutorado em Sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ). Sua experiência prática recente inclui a construção de rede de
emergência para enfrentar crises como zika e febre amarela.
Aos 62 anos, acaba de ser a mais bem votada na lista tríplice dos servidores da Fiocruz para outro mandato de quatro anos. No último páreo, em janeiro de 2017, Nísia também ficou em primeiro lugar, mas o então ministro da Saúde, Ricardo Barros, do governo Michel Temer, escolheu a segunda colocada. A mobilização de cientistas e servidores reverteu o quadro e Nísia acabou sendo nomeada.
A seguir, os principais trechos da entrevista com a presidente da Fiocruz.
1) Laboratórios escondem notícias ruins e expõem as positivas no caso da covid-19? Cientistas, por exemplo, criticam a demora na divulgação da eficácia na testagem da vacina CoronaVac.
Acho que tem muita informação e contra informação, e nós temos que ser muito cuidadosos. A Fiocruz produz 10 das 19 vacinas do Plano Nacional de Imunização (PNI), é um instituto com credibilidade. Da mesma forma, o Instituto Butantan tem muita tradição. Eu não colocaria nenhuma vacina sob suspeita. O que nós precisamos é de fato ter a evidência científica e a submissão para o registro.
2) A credibilidade dos laboratórios é testada na pandemia?
Os nossos laboratórios de produção têm demonstrado ao longo da história respostas às crises sanitárias e não está sendo diferente agora. O que existe hoje é um modo de comunicar a ciência que está mudando muito. A Pfizer e a
própria AstraZeneca anunciaram resultados pela imprensa antes mesmo da publicação científica. Esse é um procedimento novo, muito em função da expectativa da sociedade.
3) A partir de que momento dá para confiar nas vacinas?
A ciência trabalha com método, os dados são checados por pessoas independentes e isso nos dá muita segurança. Todas as vacinas que forem registradas são seguras, com diferentes porcentuais de eficácia, mas certamente com a possibilidade de evitar o adoecimento, a morte, que é uma grande preocupação.
4) À medida que as pessoas forem vacinadas a transmissão será interrompida?
Isso será um processo, não será uma coisa tão rápida. Eu sou uma grande defensora das vacinas, mas tem que olhar o conjunto, o SUS, que vai garantir o acesso à vacinação e o nosso PNI, garantindo o acesso de todos.
5) Quais são os gargalos na distribuição a serem avaliados?
As vacinas que requeiram menos cadeia de frios, menor complexidade, que tenham um custo menor, serão sustentadas. O imunizante que a Fiocruz produzirá pode ser conservado em temperaturas de 2 a 8 graus centígrados,
já temos toda a questão da logística do envasamento da vacina, porque utilizaremos a mesma da febre amarela. São frascos de cinco doses, as seringas são as que os programas de imunização usam geralmente, então não tem esse
problema logístico mais acentuado. Até julho nós estaremos importando e depois será uma vacina absolutamente nacional, brasileira, e nós produziremos enquanto for necessário.
Temos o compromisso de produzir 100,4 milhões de doses até julho do ano que vem e mais 100 milhões a partir de agosto. Num regime de duas doses, isso dará para cobrir um contingente bastante expressivo de população, e ela certamente se somará a outras vacinas que estarão obtendo registro. Os cientistas apontam que as mutações de modo algum invalidam as vacinas, mas são aspectos que exigem pesquisa, e não achismo.