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Por Redação O Sul | 15 de setembro de 2019
Apesar das sucessivas crises e de estar em rota de colisão com o presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, planeja tirar do papel uma série de projetos até o fim do ano. O ex-juiz da Operação Lava-Jato, que tem a sua imagem atrelada ao combate à corrupção, vai focar os esforços da pasta em ações para enfrentar o crime organizado e que não dependam do aval do Congresso, já que a aprovação do pacote anticrime enfrenta resistência de parte dos parlamentares.
Nas últimas semanas, aumentaram os rumores de que Moro poderia deixar o cargo. Após diversos reveses à frente da pasta, a crise se agravou com a tentativa de interferência de Bolsonaro na cúpula da PF (Polícia Federal).
O ministro tem negado que pretende pedir demissão e feito acenos públicos ao presidente. Mas, entre interlocutores do ministro, é dada como certa a saída do atual diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, o que poderia inviabilizar a permanência de Moro à frente da pasta.
Em dezembro, ele pretende inaugurar o primeiro escritório de inteligência integrado, projeto que tem chamado de “fusion center”. Moro diz que, apesar de ainda estar em busca de um “bom acrônimo” para abandonar o termo em inglês, os trabalhos estão adiantados. “Centro de fusão não fica bom, parece algo nuclear, que vamos fazer uma bomba”, brincou o ministro em entrevista ao Valor.
Inspirado no modelo americano, o centro será instalado em Foz de Iguaçu (PR) e terá como foco o controle das fronteiras. “O que é, no fundo, esse centro de fusão? É um local onde você coloca agentes, representantes de diversas agências de aplicação da lei, e que eles vão poder compartilhar, no mesmo ambiente, inteligência e banco de dados, e coordenar operações. É como se fosse uma força-tarefa com caráter permanente”, explica o ministro.
De acordo com Moro, a unidade na cidade paranaense é um projeto-piloto que poderá, no futuro, ser expandido para outros locais e com outros objetivo.
Em outra frente, a Secretaria de Operações Integradas (Seopi), ligada à pasta, traçou um plano para prender, nos próximos meses, pelo menos 20 nomes ligados a facções criminosas. O grupo que cuida do setor de inteligência tem monitorado grupos criminosos e listou o que considera ser “alvos estratégicos”.
Segundo o coordenador-geral de combate ao crime organizado da Seopi, Wagner Mesquita, a ideia é deflagrar operações em diferentes regiões do país para tirar essas lideranças do crime de circulação e, assim, conseguir desmontar o braço operacional das organizações.
Diante das restrições orçamentárias, Moro também está em busca de financiamentos de órgãos nacionais e internacionais para garantir o sucesso do programa “Em Frente Brasil”, lançado no fim de agosto.
O projeto-piloto foi instalado em cinco cidades, uma em cada região, e tem como objetivo adotar medidas mais globais para acabar com a violência, e não apenas através da repressão e do aumento do efetivo policial.
Entre os organismos procurados para levantar recursos estão o Banco Interamericano de Desenvolvimento e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. “Todos os ministérios têm dificuldade orçamentária e vão ter no próximo ano, em decorrência do teto de gastos. Nesse contexto, há um desafio. O que tem que se fazer é tentar fazer mais com menos e, dentro do que for possível, buscar recursos extras.”
Entre os planos de Moro até o fim do ano também estão abrir 22 mil vagas no sistema prisional, incluindo a inauguração de novas unidades, e passar a empregar a Força-Tarefa de Intervenção Penitenciária de uma maneira mais proativa, e não apenas para controlar rebeliões em cadeias, como tem sido hoje. “Nós vamos selecionar alguns dos piores presídios do país e enviar a força-tarefa preventivamente”, disse.