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Por Redação O Sul | 21 de maio de 2018
O juiz federal Sérgio Moro afirmou no domingo (20), na cerimônia de formatura da Universidade de Notre Dame, nos Estados Unidos, “que ninguém está acima da lei” e que esta é uma lição não só para o Brasil, “mas até para democracias maduras”. Ele também disse que ninguém está acima da lei.
“Nunca se esqueçam da pedra angular das nações democráticas, que é o Estado de Direito. Isso significa que todos têm igual proteção da lei. Isso significa que é preciso proteger os mais vulneráveis. Mas também significa que ninguém está acima da lei”, disse.
Moro foi o principal orador da cerimônia. Antes dele, a função já foi exercida pelos ex-presidentes dos EUA George W. Bush e Barack Obama e pelo ex-secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas) Kofi Annan, entre outros. Em 2017, o convidado foi o vice-presidente americano Mike Pence.
Ao apresentar o juiz brasileiro, o presidente da Universidade, reverendo John I. Jenkins, lembrou que, no mês passado, o escritor peruano e prêmio Nobel da Paz Mario Vargas Llosa afirmou que escolheria Moro “sem vacilar um segundo” se precisasse eleger um brasileiro como exemplo para o mundo. No discurso, pelo qual foi aplaudido de pé ao final, Moro falou sobre o trabalho na Operação Lava-Jato, o qual “não tem sido fácil”.
Ele citou o número de condenados por lavagem de dinheiro e corrupção na Operação Lava-Jato – 157, no total – e lembrou, sem citar nomes, que entre eles há empresários das maiores construtoras brasileiras, além de políticos de alto escalão como um ex-governador (Sérgio Cabral, do Rio de Janeiro), um ex-ministro da Fazenda (Antonio Palocci), um ex-presidente da Câmara (Eduardo Cunha) e “até mesmo um ex-presidente [Lula]”.
“Não tem sido um trabalho fácil. Velhos hábitos de corrupção sistêmica e impunidade são difíceis de derrotar”, disse, emendando que há “ameaças, riscos e tentativas de difamação”, mas que apesar disso as investigações e julgamentos continuam. Moro ainda classificou a corrupção no País como “vergonhosa”, mas destacou como positivo o endurecimento da lei sobre esses crimes. “Eu não sei o que vai acontecer com o futuro do Brasil. Nós podemos sofrer revéses. Mas eu acredito que nós demos a nós mesmos ao menos uma chance de ter um País melhor”, afirmou.
Moro disse que o Brasil falhou em “impedir o abuso do poder público para ganhos privados” e que, então, a corrupção cresceu e se tornou “disseminada, endêmica ou mesmo sistêmica”. O juiz afirmou ter sido influenciado por outros juízes, como o italiano Givoanni Falcone, que condenou 344 membros da máfia da Scicília, organização criminosa que parecia “invencível”, nas palavras do juiz.
Disse também ter se inspirado na lei de combate à corrupção americana, elaborada por um ex-aluno da Universidade de Notre Dame, uma coincidência que chamou de “mundo pequeno”. Moro citou semelhanças entre as histórias do Brasil e dos Estados Unidos, como o sofrimento com a escravidão no século 19 e o fato de ambos os países terem recebido milhões de imigrantes de todo o mundo. E elencou diferenças, como a força econômica e a maturidade da democracia.