Terça-feira, 18 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 5 de julho de 2019
Novos diálogos divulgados pela revista Veja, em parceria com o site The Intercept Brasil, incluem novos personagens nas supostas mensagens trocadas entre o então juiz da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba Sérgio Moro e o coordenador da força-tarefa da Lava-Jato, Deltan Dallagnol.
De acordo com a reportagem, o agora ministro teria alertado sobre a inclusão de uma prova em processo contra o operador de propina Zwi Skornicki; orientado o MPF (Ministério Público Federal) sobre datas de operações – uma delas ligada a ação contra o pecuarista José Carlos Bumlai – e feito pressão contra a negociação de delação premiada do deputado cassado Eduardo Cunha.
O atual ministro da Justiça e o procurador do Ministério Público Federal contestam a autenticidade das mensagens, denunciam a invasão ilegal de suas comunicações e negam infrações na atuação no âmbito da Lava-Jato. Segundo o Intercept, as conversas trocadas pelo aplicativo Telegram foram obtidas por meio de uma fonte anônima. A nova reportagem diz que, nos bastidores da Lava-Jato, Moro revisava peças da acusação e até os repreendia.
A revista diz que o material vazado soma quase um milhão de mensagens, em arquivo com mais de 30 mil páginas. A publicação afirma ainda ter analisado 649.551 mensagens, em parceria com o site.
Aviso sobre prova
De acordo com a Veja e o The Intercept, em conversa de 28 de abril de 2016, Moro teria orientado os procuradores sobre prova em um processo. Dallagnol teria avisado à procuradora Laura Tessler que o então juiz o avisou sobre a ausência de uma informação – um depósito a um funcionário da Petrobras – na denúncia do réu Zwi Skornicki, representante do estaleiro Keppel Fels, operador de propina do esquema e, posteriormente, delator na Lava-Jato.
“Laura no caso do Zwi, Moro disse que tem um depósito em favor do [Eduardo] Musa e se for por lapso que não foi incluído ele disse que vai receber amanhã e da tempo. Só é bom avisar ele”, teria escrito Dallagnol. “Ih, vou ver”, teria respondido Laura. De acordo com a revista e o site, o comprovante do depósito de US$ 80 mil, feito por Skornicki a Musa, foi incluído no dia seguinte à peça pelo MPF. Moro aceitou a denúncia e, para isso, citou o documento.
Em nota, Moro afirma que não tem como “confirmar ou responder pelo conteúdo de suposta mensagem entre terceiros”. E que a “acusação relativa ao depósito de USD 80 mil, de 7 de novembro de 2011, e que foi incluído no aditamento da denúncia em questão, não foi reconhecido como crime na sentença proferida pelo então juiz em 2 de fevereiro de 2017, sendo ambos absolvidos deste fato (itens 349 e 424, alínea A e D)”.
Processos com foro privilegiado
Segundo a reportagem, Moro teria atuado para manter os processos em Curitiba. Em 25 de agosto, a defesa do então presidente da AG Energia Flávio David Barra, do grupo Andrade Gutierrez, teria pedido ao ministro Teori Zavascki do STF (Supremo Tribunal Federal) a suspensão do processo na 13ª Vara de Curitiba.
O argumento era de que Moro não deveria julgar o caso por haver suspeita de envolvimento de parlamentares, como o senador Edison Lobão (MDB-MA), detentor de foro privilegiado no STF. Barra havia sido preso em 28 de julho de 2015 por supostos pagamentos de propina na construção da usina nuclear Angra 3.