Segunda-feira, 25 de agosto de 2025
Por Redação O Sul | 24 de agosto de 2025
O número de brasileiros com mais de 60 anos de idade ocupados no mercado de trabalho deu um salto e cresceu quase 70% nos últimos 12 anos. O avanço da chamada “geração prateada” na ativa é resultado do fato de as pessoas estarem vivendo mais. Também o aumento do custo de vida, especialmente nos grandes centros, obriga a população 60+ a buscar outra fonte de renda, além da aposentadoria, para bancar as despesas.
Em 2012, havia no País 5,1 milhões de brasileiros ocupados com mais de 60 anos de idade. Em 2024, esse número havia subido para 8,6 milhões. São 3,5 milhões a mais de pessoas nessa faixa etária na ativa, ou seja, um aumento de 68,9%.
Os dados são de um estudo feito pela economista e pesquisadora da área de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre), Janaína Feijó. O recorte foi extraído da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Como houve um aumento da expectativa de vida e esse aumento veio com qualidade, naturalmente essas pessoas vão desejar ficar mais tempo no mercado de trabalho”, diz Janaína. Em 1980, o brasileiro vivia, em média 62,6 anos, idade que subiu para 74,9 anos em 2013 e para 76,4 anos, em 2023.
A pesquisadora afirma ainda que o custo de vida elevado, especialmente para essa faixa etária, esgota a renda. A geração 60+ precisa de plano de saúde, que geralmente é mais caro para os idosos, além do gasto com remédios de uso contínuo. “Muitas vezes a aposentadoria não é suficiente e é preciso complementar a renda”, diz a economista.
Índices de preços apontam esse descolamento entre a inflação dos idosos e da população em geral. O Índice de Preços ao Consumidor – Terceira Idade (IPC-3i) da FGV/Ibre, que mede inflação dos 60+, acumulado em 12 meses até junho de 2025 – o último dado disponível – atingiu 4,40%. No mesmo período, a inflação para todas as faixas etárias, medida pelo IPC apurado também pela FGV-Ibre, acumulou alta de 4,23%. É uma diferença de 0,17 ponto porcentual.
Novos desafios
A disposição dos 60+ de começar em uma nova profissão e de continuar ou voltar para o mercado de trabalho é nítida. Dos 170 alunos de cursos voltados para a construção civil que passaram pela instituição desde o início deste ano, por exemplo, 30% são 60+, segundo Jaynna de Souza, assistente social do Instituto Bueno Neto, da incorporadora do mesmo nome, em parceria com o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial).
Também na Catho, marketplace que conecta candidatos e empresas, por exemplo, a oferta de currículos cadastrados dos 60+ para vagas formais cresceu neste ano mais do que a média para todas as idades.
De janeiro a julho, a plataforma recebeu 6.966 currículos de 60+, volume 42,7% maior em relação ao mesmo período de 2024. Enquanto isso, a média geral de currículos cadastrados na plataforma para todas as idades avançou 39,6%.
“Foi um salto grande, porque estamos olhando um período curto, de um ano para o outro”, diz Patrícia Suzuki, diretora de RH do grupo Redabor Brasil, dono da Catho.
Além do fato de as pessoas estarem envelhecendo saudáveis e do aperto financeiro por conta da alta do custo de vida, Patrícia observa que essa população, que no passado era “aposentável”, está preenchendo vagas em setores nos quais a mão de obra está mais escassa.
O estudo da FGV mostra, com números, que o avanço dos ocupados 60+ ficou concentrado em 2024 em duas categorias: “trabalhadores qualificados, operários e artesãos da construção, das mecânicas e afins”, com participação de 21,20%, , e “trabalhadores dos serviços, vendedores dos comércios e mercados”, fatia de 26,75%. Com informações de O Estado de S. Paulo