Quarta-feira, 05 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 20 de agosto de 2020
Historicamente, convenções como a que o Partido Democrata está organizando esta semana servem para que a legenda indique formalmente seu candidato à presidência dos Estados Unidos. Mas já há muitos anos que o objetivo é outro: aproveitar as grandes audiências que atraem para organizar a mensagem da campanha. Em 2004, por exemplo, a ideia era chamar atenção para o passado militar do candidato John Kerry, no auge das guerras no Afeganistão e Iraque. Os republicanos estavam preparados e neutralizaram a campanha adversária mostrando colegas de Kerry nos tempos do Vietnã que questionavam sua capacidade militar.
Mas, com todo o jogo duro habitual, o que ocorreu na noite de quarta-feira (19), a terceira de um total de quatro, foi diferente. Nunca um ex-presidente atacou o atual ocupante do cargo de presidente dos EUA no nível que Barack Obama fez com Donald Trump.
Obama escolheu para falar um cenário simbólico, o National Constitution Center, centro de pesquisas da Filadélfia dedicado a compreender os documentos de fundação dos Estados Unidos. É uma referência que os americanos conhecem. “O atual governo já demonstrou que derrubará nossa democracia se for necessário para vencer”, ele disse. Nunca um ex-presidente afirmou, nos EUA, que outro presidente é uma ameaça à democracia.
Esta é a missão a qual se propõe o Partido Democrata: fazer uma campanha que afirma, em essência, que o futuro da ideia fundadora dos EUA é que está em jogo.
Mas há uma segunda mensagem subjacente proposta pelos democratas: a de abraçar a diversidade do país. E, neste sentido, é uma mensagem que afasta o voto mais conservador.
Na quarta-feira, com exceção de Obama, todos os discursos importantes foram feitos por mulheres. A presidente da Câmara, Nancy Pelosi, a ex-secretária de Estado Hillary Clinton, a senadora Elizabeth Warren e, claro, a candidata a vice, Kamala Harris. O dia anterior foi de sotaques – diferenças regionais, que são amplas como no Brasil, mas também sotaques estrangeiros estavam presentes. As diferenças de cor de pele aparecem todos os dias. O candidato pode ser um senhor com mais de 70 anos, branco, heterossexual que só faltava ser protestante para completar a imagem estereotipada do americano. Biden, como em geral são os descendentes de irlandeses, é católico.
A aposta é de que este voto que tem repulsa ao diferente já é de Trump, então se mostrar inclusivo traz ganhos – incluindo entre as mulheres de eleitores do atual presidente. As informações são do colunista Pedro Doria, do jornal O Globo.