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Por Redação O Sul | 21 de janeiro de 2019
Geralmente vistos como grandes campeões que participam do Fórum Econômico Mundial, em Davos, para apresentarem seus exemplos de liderança e visão capitalista do futuro, grandes executivos vivem a saia justa de ter tido suas biografias manchadas por um amplo leque de alegações de má conduta, incluindo assédio sexual, má gestão e conduta financeira indevida.
Uma das estrelas que teve o brilho ofuscado é Carlos Ghosn, que está preso no Japão acusado de ter usado indevidamente recursos da Nissan, montadora da qual era presidente — o que ele nega.
O todo-poderoso da publicidade Sir Martin Sorrell, outra figurinha fácil do Fórum na última década, não está na lista de participante. Ele deixou a WPP, sua agência publicitária em abril de 2018, após ser acusado de uso indevido de fundos da companhia.
Mas há quem volte, apesar dos (muitos) escândalos, como Sheryl Sandberg, do Facebook. A segunda executiva mais importante da rede social retornará para este que será, pelo menos, seu 11º ano de Fórum, em meio a questões sobre seu papel em uma série de controvérsias e vazamentos de dados da plataforma.
Encontro esvaziado de líderes políticos
“Em Davos eles estão refletindo e estabelecendo a cultura”, disse Davia Temin, cuja empresa de consultoria de crise contabilizou mais de mil pessoas (a maioria homens) acusados de assédio e outras práticas indevidas no ano passado, lista que inclui mais de duas dezenas de homens que participarão ou já foram a Davos. “Eles refletem a cultura de liderança, e, algumas vezes, olhar no espelho ajuda a gerar discussão.”
Sexismo, ambientes de trabalho hostis e um crescente coro de queixas de questões de idade também estão entre as críticas de más práticas enfrentada pela comunidade global de negócios representada em Davos.
Outro problema do encontro deste ano é seu esvaziamento de líderes mundiais. Este mês, o presidente americano, Donald Trump, desistiu de ir ao Fórum Mundial em função da paralisação do governo por causa da briga com os Democratas para liberar recursos para a construção do muro na fronteira com o México.
Após a decisão de Trump, a primeira-ministra britânica, Theresa May também anunciou que não participaria do evento. Ela encontra-se bastante envolvida no acordo do Brexit.
Antes dela, o presidente francês, Emmanuel Macron, já havia informado que não iria à edição deste ano do Fórum depois de semanas de protestos em seu país com os “coletes amarelos”.
Ignorar a conferência priva os líderes da chance de mostrar suas políticas perante os executivos e investidores mais influentes do mundo. Ao mesmo tempo, ser retratado nos Alpes cercado pela elite financeira global pode irritar os eleitores.
Contrastes
Mesmo esvaziado, o evento reúne montes de limusines negras e reluzentes nas ruas cobertas de neve de Davos, deixando frustrados os habitantes da cidade montanhosa suíça. Em um país onde o chefe do banco central e os ministros do governo usam o transporte público regularmente, o fato de os participantes do Fórum não seguirem o exemplo é a principal queixa dos 11 mil moradores da cidade. Eles dizem que, com as limusines, o trânsito fica tão confuso que se torna perigoso para as crianças caminharem até a escola.
As reclamações evidenciam o choque cultural entre os moradores locais e as celebridades estrangeiras, entre elas líderes políticos e artistas, que comparecem ao evento.
“As pessoas usam sapatos de couro e depois andam de limusines porque não querem escorregar no gelo”, diz Ladina Alioth, professora e mãe de três filhos recém-eleitos para a legislatura local. “Eu uso botas na rua e calço meus sapatos ao entrar em ambientes fechados. Por que eles não podem fazer isso também?”