Domingo, 20 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 28 de junho de 2020
Críticos do Facebook, que acusaram a rede social de não policiar adequadamente conteúdo de ódio e fake news em suas redes sociais, encontraram um poderoso aliado na última sexta-feira (26): a Unilever, um dos maiores anunciantes do mundo, disse que iria parar de gastar dinheiro com as redes sociais do Facebook este ano.
A promessa da Unilever aplicou pressão imediata sobre outras grandes empresas e apresenta um risco para os negócios dominantes do Facebook. Mais tarde na sexta-feira, a Coca-Cola disse que interromperia globalmente os anúncios em todas as plataformas de mídia social por pelo menos 30 dias, enquanto a unidade americana da Honda Motor, a Hershey’s e várias marcas menores disseram que se juntariam ao boicote.
Zuckerberg, tentou abordar as preocupações do anunciante em uma sessão ao vivo de perguntas e respostas com os funcionários, anunciando algumas mudanças pequenas nas políticas de anúncios e conteúdo da empresa. Mas suas observações não foram suficientes para os críticos.
A Liga Anti-Difamação, um dos grupos de direitos civis que organizaram o boicote de julho, chamou de “pequenas” as mudanças anunciadas por Zuckerberg.
“Já passamos por esse caminho com o Facebook”, afirmou o grupo em comunicado. “Eles pediram desculpas no passado. E deram poucos passos depois de cada catástrofe em que plataforma desempenhou um papel. Mas isso tem que acabar agora.”
A rede social tem sido menos agressiva do que os concorrentes Twitter e Snap ao responder ao que funcionários e anunciantes dizem ser postagens prejudiciais do presidente dos EUA, Donald Trump, além de conteúdos incendiários que se tornam virais.
Riso regulatório
Além disso, o Facebook, dentre essas empresas, também é o mais suscetível ao risco regulatório e já está enfrentando investigações antitruste do Departamento de Justiça e da Comissão Federal de Comércio (FTC, na sigla em inglês).
“Você pode ver o tempo todo a dificuldade que elas têm ao tentar manter esses princípios amplos em torno da liberdade de expressão e da ideia de não prejudicar ninguém, enquanto isso se mistura com o pragmatismo de de tentar manter os investidores felizes. E tudo isso no meio de várias investigações abertas sobre empresas do Vale do Silício”, ponderou Alex Stamos, ex-executivo de segurança do Facebook.
Historicamente, as ameaças regulatórias parecem ser maiores para o Facebook do que as preocupações com os anunciantes. A empresa responde por cerca de 23% de todo o mercado de publicidade digital dos EUA, de acordo com a EMarketer. E domina as mídias sociais com mais de 3 bilhões de usuários em todas as suas redes (além do Facebook, Instagram e WhatsApp).
Durante anos, o Facebook enfrentou escândalos com seus negócios intactos e crescendo rapidamente. A receita de publicidade da empresa aumentou 27% em 2019, para mais de US$ 69,7 bilhões, apesar das ameaças de regulamentação, pedidos anteriores de boicotes à publicidade e um movimento de usuários incentivando as pessoas ao redor do mundo a excluir suas contas.
Mas agora, a apenas quatro meses das eleições nos EUA e em meio a protestos em todo o país sobre racismo e policiamento na sociedade, o Facebook se encontra no centro de um país dividido, equilibrando as pressões regulatórias com as sociais.
Momento conveniente
O Facebook já alertou que os anunciantes estão gastando menos como resultado da pandemia do novo coronavírus. Agora, as empresas estão sob pressão para cortar custos e responder às preocupações do público sobre a injustiça racial na sociedade.
Quando os grupos de direitos civis organizaram o boicote publicitário para pressionar o Facebook a combater melhor o discurso de ódio, as empresas viram uma maneira de fazer uma declaração política em um momento economicamente conveniente.
“Está claro que o Facebook e seu CEO, Mark Zuckerberg, não são mais apenas negligentes, mas de fato complacentes com a disseminação de informações erradas, apesar dos danos irreversíveis à nossa democracia”, disse Derrick Johnson, presidente e CEO da NAACP em um comunicado na semana passada.
O Facebook tentou reprimir o boicote nos bastidores e procurou os anunciantes para se defender da narrativa de que não se importa em combater o ódio e a desinformação.