Segunda-feira, 22 de setembro de 2025
Por Redação O Sul | 25 de junho de 2015
O câncer de pulmão é o que mais provoca mortes no mundo. São mais de 1,59 milhão por ano – mais do que cólon, mama e próstata juntos, que somam 1,52 milhão. No Brasil, em 2012 (último dado disponível do Instituto Nacional do Câncer), a doença matou 22.426 pessoas. Mas, apesar do impacto, esse mal recebe menos atenção e é cercado de estigma por conta da forte ligação com o tabaco, segundo uma pesquisa apresentada pela Fundação Bonnie J. Addario para Câncer de Pulmão, dos EUA. Realizado com 10 mil pessoas em dez países, o estudo mostrou que 85% sabem pouco ou nada sobre este tipo de câncer e 80% dos diagnosticados acreditam ter culpa pela doença.
“Ouço muitas histórias de pessoas que se sentem envergonhadas, tenham elas fumado ou não”, comenta Danielle Hicks, da fundação, que integra a campanha “Qualquer um. Qualquer pulmão”, para conscientizar que a doença é mais abrangente do que se imagina. “Foca-se demais em como ela ocorreu, em vez de em como diagnosticá-la e tratá-la precocemente.” Para se ter uma ideia, dados compilados de órgãos do governo americano – como o NCI (o Instituto Nacional do Câncer dos EUA) e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças – mostram que para o câncer de mama foram investidos 17,8 mil dólares por indivíduo em 2012, e para o de pulmão, apenas 1,3 mil dólares. Além disso, foram investidos, entre 2008 e 2010, 1,8 bilhão de dólares em pesquisas para o câncer de mama, contra 776 milhões de dólares para o de pulmão.
Fumo é fator de risco em todos os casos de câncer.
O fumo é um fator de risco para todos os tipos de câncer, não apenas o de pulmão. Mas quem não fuma dificilmente crê estar sujeito ao problema. “Um câncer que aflige a todos igualmente é mais facilmente alvo de campanhas, pois todos se sentem como potenciais vítimas, entre aspas, como por exemplo os de próstata e mama”, justifica o cirurgião torácico Ricardo Sales dos Santos, concordando que o estigma existe também no Brasil.
No caso dos doentes que nunca fumaram, alterações genéticas, poluição do ar e exposição a agentes químicos seriam possíveis causas. A idade mediana para câncer de pulmão é de 65 anos. Para não fumantes, 40 anos. Em ambos os casos, a doença se confunde com infecções, asma e pneumonia etc. “O sistema de vigilância americano já separa os cânceres de pulmão entre fumante e não fumante, porque entende que são doenças diferentes do ponto de vista epidemiológico, molecular, terapêutico e de prognóstico. Além de afetar pacientes jovens, de vida saudável e em idade produtiva”, explica o oncologista Carlos Gil.
A incidência mundial é de 1,8 milhão de novos casos de câncer de pulmão por ano. No Brasil, são 16,4 mil entre os homens e 10,9 mil entre as mulheres. As políticas antitabagistas já tiveram efeito na redução dos tumores em homens (nos EUA, foi de um quarto). Mas o foco em diagnóstico precoce é ainda uma demanda de ativistas.
O Ministério da Saúde admite que a doença é geralmente detectada em estágio avançado, mas acredita que “não há estudos que comprovem a eficácia” do rastreamento para o pulmão.
O tema gera debate. Em 2011, o NCI financiou um estudo com 25 mil pessoas que indicou queda de 20% na mortalidade devido ao rastreamento por tomografia. Por isso, em 2013, a Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos EUA, um painel independente de especialistas, passou a recomendar o rastreamento anual em adultos entre 55 e 80 anos fumantes ou ex-fumantes (há até 15 anos). “As sociedades médicas brasileiras ainda não despertaram para essa importância, e muitos colegas duvidam que seja possível realizar o rastreamento no Brasil. Mas é possível e seguro”, diz Sales dos Santos, que realizou o projeto “Propulmão”, com 790 participantes, seguindo os critérios do estudo americano. Finalizado ano passado, dos indivíduos rastreados, 10% tinham nódulos suspeitos, 3% foram submetidos a exames mais invasivos e 1,4% foram diagnosticados com tumores malignos. (AG)