Sábado, 20 de dezembro de 2025
Por Rogério Pons da Silva | 20 de dezembro de 2025
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editoriais de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
No início do século XX, Gerald e Sarah Murphy formaram um casal moderno e, digamos, excêntrico.
Ambos eram originários de famílias muito ricas dos Estados Unidos.
Em 1921, este glamouroso casal, com seus três filhos pequenos, resolveu passar uma temporada na Riviera Francesa, pois consideravam que Nova York era uma cidade muito rotineira e entediante.
O lugar escolhido foi o Hotel Du Cap d’Antibes, na Riviera Francesa, entre Nice e Cannes.
O hotel, um luxo só até hoje, possui uma arquitetura imponente em frente ao mar.
Curiosamente, nesta época, os hotéis de veraneio fechavam na estação quente, ou seja, os hotéis no litoral fechavam no verão. Estranho, né?
As famílias que tinham recursos, nesta estação, buscavam o ar mais fresco das montanhas, para nós aqui, a serra em Canela ou Nova Petrópolis, ou para hotéis de veraneio.
Também havia casas de veraneio mais próximas, como nos bairros da Tristeza, Lami, Belém Novo e Ponta Grossa.
Não existia veraneio próximo ao oceano, muito menos a “instituição banhos de mar”, guarda-sóis e atividades à beira-mar, às quais hoje estamos acostumados.
Sarah e Gerald foram avisados pela gerência que, em algumas semanas, o hotel entraria em férias (que estranho isso!) e o casal, com filhos, teria que fazer as malas e ir embora.
Desejosos de ficar no hotel, os milionários excêntricos fizeram uma oferta para manter o hotel aberto somente para eles.
Para não ficarem só com a família e para animar o ambiente, convidaram alguns amigos para usufruir daquela excentricidade maluca de passar o verão perto do mar! E deu certo. Muito certo!
Amigos famosos, como o escritor F. Scott Fitzgerald, o artista plástico Pablo Picasso, o músico Cole Porter e sua esposa Linda Porter, entre outras celebridades, o “jet set” internacional da época, todos se instalaram no hotel.
Como fazia muito calor, os funcionários do hotel montaram tendas na beira da praia, e todos caminhavam protegidos por sombrinhas improvisadas. Creio que ainda não haviam inventado os atuais guarda-sóis.
Esses famosos ficavam grande parte do dia em conversas e bebendo champanhe na beira da praia, uma excentricidade que virou notícia na Europa.
As “maluquices” dos ricos excêntricos chamaram a atenção da imprensa europeia; todos queriam saber o que os “influencers” estavam inventando.
Nos anos seguintes, ir à praia passou a ser moda na Europa. Banhos de mar, frequentar e se refrescar à beira-mar virou um costume europeu!
Nas praias do Rio de Janeiro, no século XIX, existem poucos registros fotográficos, mas, se você olhar atentamente para fotos da época, vai ver praias desertas e muito menos pessoas tomando banho de mar.
Anos depois, essa moda chegou ao Brasil e, aqui no Rio Grande do Sul, nas décadas de 1930 e 1940, já havia hotéis no litoral para receber os primeiros veranistas.
Nos anos seguintes, com a abertura de estradas, principalmente nas décadas de 1950 e 1960, houve uma explosão de casas de veraneio no litoral norte do Rio Grande do Sul.
Há décadas vamos para o litoral, montamos nossa barraca ou guarda-sol e ficamos ali por horas, no sol ou na sombra, mas nem imaginamos que estamos simplesmente copiando um modelo de comportamento que se iniciou há mais de 100 anos.
Um costume trazido da Europa graças ao comportamento criativo daquele “casal maluco” e seus amigos, que virou uma tradição.
Nos anos 20 do século passado, era um comportamento totalmente fora do padrão, mas, com o passar dos anos, mostrou que a originalidade e a excentricidade foram uma ótima ideia.
Hoje podemos dizer que somos praticamente todos mantenedores desta “instituição centenária”!
Seja bem-vindo, seja o verão!!
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editoriais de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.