Terça-feira, 09 de setembro de 2025
Por Luís Eduardo Souza Fraga | 5 de setembro de 2025
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
“Morrer é ser esquecido”, dizem os filósofos. Talvez por isso muitas pessoas busquem, em vida, formas de garantir que sua memória atravesse o tempo. Algumas o fazem por meio de boas ações, outras pela produção de livros, pela fundação de instituições ou pelo engajamento em atividades sociais. Já os tiranos, estes também permanecem lembrados, mas por suas crueldades.
Entre as atitudes mais surpreendentes nesse sentido está a de D. Pedro I, imperador do Brasil e, posteriormente, rei de Portugal. Filho de D. João VI, foi ele quem proclamou a Independência do Brasil em 7 de setembro de 1822, tornando-se o primeiro imperador do país.
Em 1831, D. Pedro I abdicou do trono brasileiro e partiu para Portugal a fim de reivindicar o direito dinástico à coroa portuguesa. Deixou como sucessor seu filho Pedro de Alcântara, então com apenas cinco anos, que mais tarde seria conhecido como D. Pedro II.
Quase dois séculos depois, em 2022, o Brasil celebrava os 200 anos de independência. As festividades ocorreram em grande estilo, mas um fato chamou a atenção de todos: o coração do imperador participou das comemorações.
O episódio remonta ao último desejo de D. Pedro I. Antes de morrer, em 1834, pediu que seu coração fosse retirado, colocado em um recipiente com formol e guardado na Igreja de Nossa Senhora da Lapa, no Porto, Portugal — templo ao qual tinha grande devoção. Sua intenção com esse pedido inusitado é objeto de especulação: talvez garantir que não fosse esquecido, talvez aspirar a uma dimensão quase mítica. O fato é que sua vontade foi atendida e o coração permanece até hoje naquele local.
No entanto, em razão do bicentenário da Independência, o governo brasileiro solicitou a Portugal o envio do órgão para as celebrações. Assim, em 22 de agosto de 2022, após 187 anos preservado, o coração de D. Pedro I chegou ao Brasil em um avião da Força Aérea Brasileira.
A programação incluiu homenagens oficiais, e o coração foi recebido com honras de chefe de Estado. O ponto mais simbólico — e também alvo de espanto — ocorreu quando o relicário subiu a rampa do Palácio do Planalto, em Brasília. Confesso que temi algum imprevisto, imaginando a possibilidade de um acidente com uma relíquia tão singular.
Exagero, espetáculo ou reverência legítima? O tempo dará sua interpretação. O certo é que, naquele 7 de setembro de 2022, o Brasil celebrou seus 200 anos de independência sob a presença simbólica de quem foi o protagonista do grito às margens do Ipiranga.
Hoje, em 2025, ao celebrarmos 203 anos de independência, seguimos entre conquistas e dificuldades. Mas, acima de qualquer divergência política ou social, permanece o sentimento de pertencimento à mesma pátria. E é esse coração coletivo, o dos brasileiros, que continua a pulsar mais forte a cada 7 de setembro.
Parabéns, Brasil, pelos 203 anos de independência!
Prof. Luís Eduardo Souza Fraga
Historiador e escritor
fragaluiseduardo@gmail.com
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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