Quinta-feira, 15 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 6 de maio de 2020
O diretor-geral da PF (Polícia Federal), Rolando de Souza, definiu na noite de terça-feira (5) o delegado Tácio Muzzi como novo superintendente da corporação no Rio de Janeiro.
Foco de interesses da família Bolsonaro, a superintendência da PF no Estado também foi um dos alvos de embate de Jair Bolsonaro com o agora ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, que pediu demissão acusando tentativa de interferência política do presidente.
Após forte pressão interna e externa, o nome de Muzzi foi escolhido sem que estivesse entre os indicados de Bolsonaro.
Na tentativa de afastar suspeitas, dentro da corporação havia cobrança para que o novo superintendente não tivesse ligação com a família do presidente e que fosse um delegado respeitado internamente.
O diretor-geral da PF, Rolando de Souza, foi nomeado no começo da semana por Bolsonaro após indicação de Alexandre Ramagem, amigo dos Bolsonaro e primeiro nome escolhido pelo presidente para comandar a corporação, mas barrado por decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.
A escolha do superintendente no Rio teve o aval do ainda atual chefe do órgão no Estado, Carlos Henrique Oliveira, que foi promovido a número dois da PF.
Muzzi ficou no posto de superintendente interino no ano passado por cinco meses após explodir a crise em agosto, quando o presidente da República pediu, pela primeira vez, a troca da chefia no Rio.
Na época, ele era o braço-direito de Ricardo Saadi, que deixou o cargo depois de Bolsonaro anunciar sua demissão em uma das entrevistas matinais no Palácio da Alvorada.
A troca da chefia no Estado na segunda (4) foi um dos primeiros atos do novo diretor-geral e levou a mais um capítulo de crise no órgão.
Em depoimento no último sábado (2), Sérgio Moro relatou pressão de Bolsonaro para mudanças na cúpula da PF e na superintendência do Rio.
“Moro, você tem 27 Superintendências, eu quero apenas uma, a do Rio de Janeiro”, disse Bolsonaro a Moro, por mensagem de WhatsApp, segundo transcrição do depoimento do ex-ministro à PF no inquérito que tramita no STF (Supremo Tribunal Federal).
O presidente havia sugerido nomes ao ex-ministro, mas Muzzi não estava entre eles.
O novo chefe da PF do Rio tem no currículo investigações consideradas importantes, como a que terminou na prisão do deputado estadual e ex-chefe da Polícia Civil do Rio Álvaro Lins. Durante a Operação Lava-Jato, ele chefiava a equipe de combate à corrupção.
Muzzi atuou, por exemplo, em investigações que atingiram os ex-governadores Sérgio Cabral e Anthony Garotinho, além do empresário Eike Batista.
Fora da PF, o delegado foi diretor do Depen (Departamento de Penitenciária Nacional) e diretor-adjunto do DRCI (Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional).
O presidente Jair Bolsonaro negou nesta semana interferir na PF e disse que não tem nenhum parente investigado pela corporação.
Como mostrou reportagem da Folha, porém, a PF no Rio tem uma série de apurações e interesses que esbarram nele e em sua família.
A preocupação com investigações, desconhecimento sobre processos, síndrome de perseguição, inimigos políticos e fake news são alguns dos principais pontos elencados por pessoas ouvidas pela Folha para tentar desvendar o que há no Rio.
Desde o episódio envolvendo um porteiro do seu condomínio na Barra da Tijuca, na investigação do assassinato de Mairelle Franco (PSOL), Bolsonaro passou a se preocupar ainda mais com o Estado.
O presidente chegou a insinuar que o ocorrido era parte de um plano do governador Wilson Witzel (PSC-RJ).
O caso da “rachadinha” do então gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia do Rio não está com a PF, mas o órgão tocava na época investigações envolvendo personagens em comum. Aliados do presidente, no entanto, divulgam por diversas vezes que a polícia possui uma série e informações deste assunto, guardadas em sigilo. As informações são da coluna Painel, da Folha de S.Paulo.