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Por Redação O Sul | 28 de outubro de 2017
O doleiro Lucio Funaro disse em depoimento à Justiça Federal em Brasília, que se encontrou com o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha “pelo menos uma vez por semana” nos últimos 15 anos, totalizando, segundo ele, “780 encontros, no mínimo”. Funaro, que fez acordo de delação premiada com o Ministério Público, é réu na Operação Sépsis, um desdobramento da Operação Lava-Jato que investiga suposto esquema de propinas envolvendo financiamentos do Fundo de Investimentos do FGTS, administrado pela Caixa.
“Durante 15 anos eu me encontrei pelo menos uma vez por semana com Eduardo Cunha. São aí pelo menos 780 encontros no mínimo”, afirmou Funaro. O doleiro prestou depoimento na presença de Eduardo Cunha, que também é réu no processo e deverá ser ouvido nos próximos dias.
Funaro relatou que conheceu Cunha em meados de 2002, na época da eleição. E que pediu para ser apresentado ao político porque soube que seria ele quem iria “mandar” na Cedae, companhia de água e esgoto do Rio, e ele tinha interesse em administrar alguns fundos do Prece, instituto de previdência da empresa. “Me dispus a doar dinheiro para a campanha mediante ele me dar depois uma quantidade de fundos exclusivos para eu administrar. Acertamos um valor. Ele foi eleito e, em janeiro de 2003, começou a nossa relação de negócios ilícitos”, afirmou.
“A gente fez uma combinação que ele teria um percentual e eu teria outro sobe esses negócios da fundação Prece”, explicou.
Segundo ele, o relacionamento com o ex-deputado foi “permanente” desde então. “A relação foi permanente de 2003 até um pouco antes de eu ser preso. Ele achou que eu já estava fazendo delação premiada, coisa que eu não estava fazendo, aí ele não me atendia mais”, contou. Funaro afirmou que se comunicava por Cunha “de todas as formas” e listou aplicativos que usavam para conversar, como Wick e Telegram.
Esquema
Funaro reiterou os pontos que constam de sua delação premiada, como o de que a indicação de Fabio Cleto para uma das vice-presidências da Caixa foi feita por Eduardo Cunha. Questionado pelo juiz Vallisney Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília, se a nomeação dele já tinha como objetivo atender a um esquema de corrupção, o doleiro garantiu que sim.
“Nenhum partido, nenhum líder indica alguém para algum cargo no governo que não seja para ter algum proveito, ou financeiro ou politico”, disse.
Funaro listou as pessoas que tinham conhecimento sobre o esquema na Caixa. “O Geddel [Vieira Lima, ex-ministro], com certeza, o Lúcio, irmão dele, com certeza, o Henrique [Eduardo Alves], o Michel Temer, Moreira Franco, Washington Reis [prefeito de Caxias, RJ]”, disse.
Funaro ainda contestou as críticas de Fabio Cleto e de Alexandre Margotto, que prestaram depoimento antes dele. Ao serem interrogados, Cleto e Margotto reclamaram de que Funaro não teria pagado tudo o que cabia a eles da parte da propina acertada.
O doleiro justificou os valores menores dizendo que, como emitia notas fiscais para legalizar a entrada de dinheiro na sua empresa, tinha gastos com impostos, diminuindo o valor restante. “Todas as operações que recebi dinheiro, eu emiti nota fiscal e aí tem 22% de imposto, tem 3% de custo do dinheiro que está na conta corrente. O gasto para fazer o transporte. Eles [Cleto e Margotto] acham que é só festa, só lucro?”, disse.