Sábado, 03 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 10 de agosto de 2018
O juiz Sérgio Moro, responsável por processos da Operação Lava-Jato na Justiça Federal do Paraná, disse nesta sexta-feira (10) ser “inviável” se manifestar sobre as recorrentes afirmações do candidato do Podemos a presidente, Álvaro Dias, de que convidará o magistrado a assumir o Ministério da Justiça caso eleito.
Dias já disse publicamente que nunca consultou Moro sobre a ideia, embora na quinta-feira (9), no debate da TV Bandeirantes, tenha dito, em suas considerações finais, que “com segurança o juiz Sérgio Moro estará ao nosso lado apoiando. Tenho certeza que ele apoiará o fim de todos os privilégios das autoridades”.
Sempre que consultada sobre o assunto, a assessoria de imprensa da Justiça Federal vinha dizendo que o juiz não se pronunciaria.
Por meio de nota divulgada pela assessoria, Moro disse considerar uma manifestação sua “inviável no momento”. Segundo o magistrado, “a recusa ou a aceitação poderiam ser interpretadas como indicação de preferências políticas partidárias, o que é vedado para juízes”.
Enquanto Moro opta por não dizer se nega ou acata a ideia de Dias, que também é senador pelo Paraná, o candidato do Podemos continua alardeando que fará tal convite caso eleito. Dias citou o juiz em pelo menos três ocasiões ao longo do encontro entre presidenciáveis na Bandeirantes.
A primeira delas logo em sua participação inicial. Perguntado sobre quais medidas pretendia implementar para combater o desemprego, o senador não só não respondeu, como teve seu tempo encerrado no momento em que dizia que convidará Moro para ser seu ministro.
Também coube a Álvaro Dias fazer a única pergunta, nos blocos de questões entre candidatos, sobre a Operação Lava-Jato. Em determinado momento, porém, foi confrontado por Ciro Gomes (PDT) ao criticar “privilégios” de autoridades brasileiras, entre eles o auxílio-moradia. “Só para fazer uma notinha de rodapé: o eminente juiz Sérgio Moro, que tem prestado sem dúvida um bom serviço ao país, recebe auxílio-moradia sendo proprietário de apartamento em Curitiba, e sua esposa também, consta”, disse Ciro, que depois se desculpou por ter citado erroneamente Rosângela Wolff. Na verdade, quem pediu para receber o benefício — e o CNJ negou — foi a mulher de outro juiz da Lava-Jato, Marcelo Bretas, Simone.
Há anos Moro nega que tenha interesse em se candidatar. No entanto, seu nome já foi incluído em pesquisas de intenção de voto feitas pelo Datafolha entre 2016 e 2017. O magistrado teve patamares de intenção de voto similares aos obtidos na época por políticos bastante conhecidos e que atualmente disputam a Presidência, como Jair Bolsonaro (PSL), Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (Rede).
O Datafolha também mostrou, em pesquisa feita em abril, que 84% dos brasileiros apoiam a continuação da Operação Lava-Jato.
A atuação do magistrado na operação e a visibilidade decorrente dela também trouxeram acusações de que não seria imparcial e críticas por posar para fotos com políticos. Várias delas partiram da defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), condenado por Moro no caso do triplex.
A defesa de Lula já entrou com vários processos contra Moro acusando-o de agir de forma parcial contra o petista e pedindo seu afastamento das ações penais em que o ex-presidente é réu. A Justiça vem negando seguidamente tais recursos.
Um destes pedidos foi motivado pela participação de Moro em um evento de uma empresa ligada a João Doria (PSDB), ex-prefeito de São Paulo e candidato ao governo paulista, e por ter posado para fotos ao lado do político. Doria costuma elogiar Moro publicamente.
Uma foto com político já tinha dado dor de cabeça a Moro no fim de 2016, quando foi fotografado sorrindo ao lado do senador Aécio Neves (PSDB-MG) em um evento da revista “IstoÉ”. O magistrado depois declarou, em entrevista à revista “Crusoé”, que se arrependeu da foto.