Sexta-feira, 06 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 4 de junho de 2025
A cantoria da militância “Carlos Siqueira é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo” deu lugar a “Brasil pra frente, João presidente”. O PSB elegeu por aclamação João Campos, prefeito do Recife, para suceder a Siqueira no comando da legenda.
A transição, feita durante o 16º Congresso Nacional do PSB, no domingo (1º), marca a renovação de uma esquerda que claudica na busca por novos líderes fortes o suficiente para fazer frente ao bolsonarismo. Aos 31 anos, João Campos é o presidente partidário mais jovem do País.
Em seu segundo mandato na prefeitura, João Campos ascende num campo político que tem a hegemonia do PT. A sigla, no entanto, enfrenta um problema, na medida em que seu principal quadro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se aproxima dos 80 anos de idade: tornou-se a mais sênior na Câmara enquanto sofre para encontrar jovens líderes a nível nacional.
Lula, por sua vez, dá mostras de que não vai abrir caminho tão facilmente para um sucessor. No mesmo evento que coroou João Campos, ele afirmou que deve se candidatar à reeleição no ano que vem se estiver “100% de saúde como está hoje”. Caso seja reeleito, o petista pode deixar o poder aos 85 anos – desde 1989 ele é a opção número um do PT para a Presidência.
Idade
De lá para cá, no entanto, o partido perdeu força entre a juventude. A bancada petista na Câmara tinha uma idade média de 55,7 anos ao tomar posse em 2023, acima da média geral. O levantamento do Estadão levou em conta todas as siglas com mais de dez assentos na atual legislatura: são 12 partidos, somando 466 parlamentares.
Quando chegou pela primeira vez à Câmara, em 1983, o PT era conhecido por jovens líderes ligados a movimentos sociais, como Luiz Dulci (27), José Genoino (36), Eduardo Suplicy (41) e Lula (37), então candidato derrotado ao governo de São Paulo no ano anterior. Os seis parlamentares da primeira bancada eleita tinham uma idade média de 39,7 anos. O mais velho era Plínio de Arruda Sampaio, então com 52. Metade da bancada era de “vintões” e “trintões”.
A juventude hoje pertence a outras siglas, em especial ao PSOL. A bancada do partido do deputado Guilherme Boulos (SP) tem uma idade média de 47,2 anos, a mais jovem da esquerda. Mas o PSB de João Campos também é mais jovem que o PT: 51,1 anos – média puxada para baixo pelo círculo íntimo do novo presidente da sigla. Seu irmão, Pedro Campos (PE), tomou posse com 27 anos. Tabata Amaral (SP), namorada do prefeito, com 29.
O evento do PSB foi realizado num centro de convenções em Brasília e teve a presença de Lula – é incomum que figuras de outros partidos compareçam a assembleias internas de outro, o que foi visto como sinal de prestígio. Nomes de peso do partido, como o vice-presidente Geraldo Alckmin e os governadores da Paraíba, João Azevêdo, e do Espírito Santo, Renato Casagrande, compunham a mesa principal, enquanto a militância circulava pelo espaço com máscaras de João Campos.
Família
A renovação atrelada ao recifense, entretanto, é um paradoxo. Isso porque ele é herdeiro de um dos mais tradicionais clãs políticos de Pernambuco, a família Arraes. João Campos é agora líder maior de um partido que tem a Vice-Presidência da República, três governadores, 15 deputados e quatro senadores. Cargos importantes como o de governador de Pernambuco e até o de presidente da República são esperados na trajetória do prodígio, na visão de aliados.
Seu bisavô, Miguel Arraes (1916-2005), e seu pai, Eduardo Campos (1965-2014), governaram Pernambuco em diversas ocasiões. Eduardo deixou a cadeira nove anos atrás para concorrer ao Palácio do Planalto, tendo Marina Silva (então no PV) como vice. Um acidente aéreo, no entanto, o vitimou às vésperas da eleição. Tanto Miguel quanto o seu neto morreram no dia 13 de agosto.
Em entrevista coletiva, João Campos afirmou que o PSB, sob seu comando, vai defender a manutenção de Alckmin como vice na chapa do PT em 2026. Mais cedo, ele havia dito que a tarefa do partido é crescer nas urnas e aumentar as bancadas parlamentares.
Em discurso, João Campos se mostrou antenado às mudanças sociais do eleitorado. “A gente vive diante de um Brasil novo, onde a gente tem maiorias que não existiam antigamente, seja no campo do empreendedorismo, seja na mistura das religiões e na fragmentação do cristianismo. Isso tem implicado na vida política”, declarou. (Com informações do Estado de S. Paulo)