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Por Redação O Sul | 12 de maio de 2018
A investigação que corre no MPF (Ministério Público Federal) sobre o ex-procurador da República Marcello Miller terá um desfecho em breve. No mês passado, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin compartilhou provas sobre a atuação do ex-procurador que largou a carreira para advogar com procuradores que tocam a apuração no Núcleo de Combate à Corrupção da Procuradoria da República no Distrito Federal.
Miller, questionado por atuar para a JBS, foi alvo no ano passado de quebra de sigilo e busca e apreensão. Em dezembro, os investigadores pediram acesso aos elementos colhidos por ordem do STF.
Entenda o caso
Um arquivo de áudio entregue pela empresa à PGR (Procuradoria-Geral da República) revelou a participação do ex-procurador Marcello Miller nas negociações do acordo de delação da JBS.
Miller, que chegou a trabalhar na força-tarefa da Operação Lava-Jato na PGR, era próximo do então procurador-geral da República Rodrigo Janot e, antes de deixar a carreira de procurador, já dava orientações aos delatores da JBS. Descoberta a ação coordenada, Janot pediu a prisão de Joesley, Saud e Miller, mas o STF só prendeu os dois primeiros.
Em 21 de fevereiro de 2017, o então procurador da República Marcello Miller negociava sua entrada no escritório de advocacia Trench, Rossi e Watanabe. Em mensagens enviadas a Esther Flesch, que era sócia da empresa, ele anunciou que poderia levar um grande cliente para o escritório: a JBS, interessada em colaborar com a Justiça.
As mensagens reforçam a tese de que Miller fazia jogo duplo, ou seja, quando era procurador da República já atuava em benefício da JBS para garantir à empresa termos brandos em um acordo de delação premiada.
Miller só pediria exoneração da Procuradoria-Geral da República (PGR), responsável pelo acordo, em 23 de fevereiro de 2017. Meses depois, quando a delação dos executivos da JBS já estava firmada, ele foi alvo de críticas e até de um pedido de prisão por sua atuação no caso.
Manual de delação
Uma quebra de sigilo de e-mail de Marcello Miller revelou um manual de delação, com orientações direcionadas aos executivos e advogados da JBS, sobre como se portar para fechar acordo de delação com a PGR.
Em e-mail datado de 9 de março de 2017, sob o assunto “segundo roteiro de reunião”, Marcelo Miller faz um questionário com perguntas que devem ser feitas pelos delatores à PGR com objetivo de conseguir sucesso nas negociações. O e-mail foi escrito dois dias depois do empresário Joesley Batista gravar o presidente Michel Temer (PMDB) em encontro secreto no Palácio do Jaburu. O passo a passo foi encaminhado pelo próprio Miller para o seu e-mail pessoal, às 8h16 daquele dia.
“Estamos trazendo pela primeira vez BNDES, que era a última caixa-preta da República, estamos trazendo fundos, Temer, Aécio, Dilma, Cunha, Mantega e, por certo ângulo, também Lula. Temos elementos muito sólidos de corroboração”, diz trecho do e-mail escrito possivelmente por Miller, que mais adiante escreve como eles devem justificar.
“Queríamos insistir com vocês na assinatura de um acordo de confidencialidade, para detalharmos os assuntos e iniciarmos a apresentação dos anexos. Queríamos que o Brasil e o MPF saíssem na frente”, diz o texto orientado por Miller.