Quarta-feira, 05 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 28 de junho de 2020
Parece uma eternidade, mas a Covid-19 é conhecida pela humanidade há apenas sete meses. E apesar de todo o estrago que tem feito no planeta, muito sobre a doença ainda é desconhecido pela ciência, mesmo que praticamente todos os esforços científicos da saúde tenham sido direcionados para isso.
Um ponto que tem intrigado os cientistas é a questão da imunidade. O senso comum indicaria que, depois de uma pessoa contrair o coronavírus e se curar, seu organismo já teria os anticorpos para isso. Na vida real, no entanto, as coisas não são tão claras assim.
A seguir vamos discutir alguns dos mistérios sobre a imunidade da Covid-19, mas não espere respostas conclusivas. Especialistas do mundo inteiro ainda estão batalhando para tentar ter uma solução para essa questão, e a ainda pode levar um tempo para que possamos cravar
Por quanto tempo somos imunes?
Talvez esse seja o grande mistério relacionado à Covid-19 até o momento. No início do surto, quando ele ainda se concentrava em países asiáticos, começaram a surgir relatos de pessoas que foram testadas com resultado positivo para o vírus mesmo após terem se curado e dispensados do hospital.
Isso criou a primeira pulga atrás da orelha da comunidade científica. Será que não havia imunidade para os curados? Será que era possível contrair o vírus novamente tão rapidamente?
Felizmente, essas suspeitas se desfizeram rapidamente. Quando os casos foram investigados mais a fundo, percebeu-se que os testes estavam detectando resíduos do vírus, mas já incapaz de causar danos ao organismo ou se propagar para outras pessoas. Assim, chegamos à marca de sete meses sem reinfecções, o que é um bom sinal, mas que não comprova absolutamente nada.
Já um indício preocupante veio de um estudo chinês publicado na revista Nature. Ele indicou que alguns anticorpos produzidos com a infecção, do tipo IgC, podem passar a ser indetectáveis no sangue depois de três meses. A perda parece ter sido ainda mais acentuada entre os pacientes assintomáticos, com 40% do grupo analisado ter perdido completamente os anticorpos após o período, contra 13% dos sintomáticos.
No entanto, o fato de a pesquisa ser muito pequena, acompanhando um grupo muito restrito de pacientes, limita a possibilidade de inferir conclusões sobre a queda nas taxas de imunidade da doença com o tempo. Até porque os anticorpos são apenas um dos fatores que determinam a proteção do corpo contra uma nova infecção.
É importante entender o que é um anticorpo e como ele age sobre o vírus. Imagine um “Y”; esse é o seu anticorpo. As duas “perninhas” menores da letra são variáveis, e mudam conforme o antígeno que se tenta combater, então o Sars-Cov-2 precisa de anticorpos específicos para que seja neutralizado.
No caso da Covid-19, o “Y” é usado para ligar-se à proteína “spike”, que dá ao coronavírus o seu formato espinhoso. Ao fazer essa conexão, o organismo impede que o vírus se ligue aos receptores ACE2 das suas células, neutralizando sua ação e impedindo a infecção. Posteriormente, a “perninha” maior do “Y” permite que o vírus seja fagocitado em segurança pelo sistema imunológico, eliminando a ameaça.
No entanto, a perda de anticorpos com o tempo é um processo natural, que ocorre após algum tempo de uma infecção, mas o corpo humano conta com outras formas de se proteger contra o vírus.
Como explica a Andrea Moreno, imunologista e professora de Ciências Biológicas da PUC-PR, o sistema imunológico humano é complexo e mais inteligente do que isso. Mesmo com a perda dos anticorpos, o organismo desenvolve uma espécie de memória contra um antígeno (no caso, o coronavírus), que permite a criação dos anticorpos em caso de uma nova exposição.
O que não se sabe é o quão eficazes essas reações serão uma vez que a concentração de anticorpos chegue a um nível muito baixo ou indetectável no corpo de quem já se contaminou. O sistema imunológico será capaz de responder corretamente? É o que cientistas do mundo ainda tentam entender.