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Por Redação O Sul | 25 de agosto de 2018
O papa Francisco iniciou, neste sábado, uma viagem de dois dias à Irlanda, onde participará do IX Encontro Mundial de Famílias, em Dublin, além também de se reunir com o primeiro-ministro, o democrata-cristão Leo Varadkar, para abordar, entre outros assuntos, os abusos cometidos pelo clero no país.
O pontífice visita a Irlanda no meio de uma tempestade, como admitiu o Vaticano. O país onde a Igreja Católica tinha até há poucas décadas um poder que se estendia a todas as áreas da sociedade e da política está hoje muito diferente, tendo aprovado, em referendo, o fim de limites para aborto, e de ter permitido, há três anos, o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Seu primeiro-ministro é, pela primeira vez, um político abertamente homossexual.
A primeira e única visita de um papa à Irlanda até hoje foi feita por João Paulo II, em 1979, embora Francisco chegue a um país diferente, no qual a Igreja Católica perdeu influência e apoio pelos milhares de casos de abusos cometidos por religiosos contra menores e mulheres durante décadas.
A 24ª viagem ao exterior do papa Francisco acontece em um momento muito sensível para a Igreja Católica, abalada na semana passada pelas revelações de abusos sexuais cometidos no passado nos Estados Unidos e por uma série sem precedentes de recentes renúncias de hierarcas suspeitos de fazer cumprir a lei do silêncio no Chile, na Austrália e nos Estados Unidos.
Logo depois de sua chegada, Francisco já abordou o assunto como “uma causa de sofrimento e de vergonha”. Não é à toa que, em sua agenda, o sumo pontífice prevê encontrar com vítimas desses crimes na Irlanda neste sábado ou domingo.
“O fracasso das autoridades eclesiásticas – bispos, superiores religiosos, padres e outros – para lutar de maneira adequada contra esses crimes terríveis suscitou justamente a indignação e continua sendo uma causa de sofrimento e de vergonha para a comunidade católica. Eu mesmo compartilho desses sentimentos”, declarou o papa, diante de autoridades irlandesas, em seu primeiro discurso, logo após sua chegada.
Os discursos previstos do papa serão analisados detalhadamente em torno da delicada questão dos abusos perpetrados pela Igreja irlandesa. Desde 2002, mais de 14.500 pessoas declararam-se vítimas de abusos sexuais por padres na Irlanda.
Protestos
Milhares de internautas irlandeses pediram nos últimos dias, no Facebook, um boicote em massa ao papa e à missa de Phoenix Park. Em Thuam, no oeste da Irlanda, está prevista uma vigília será realizada em memória dos 796 bebês mortos entre 1925 e 1961 no albergue católico das Irmãs do Bom Socorro e que foram enterrados em uma vala comum.
“A visita do papa é muito dolorosa para muitos sobreviventes [de abusos]. Desperta velhas emoções. Vergonha, humilhação, desespero, raiva”, declarou Maeve Lewis, diretora da associação One in Four, que ajuda vítimas. “É um fim de semana de emoções mistas”, resumiu o ministro da Saúde da Irlanda, Simon Harris, no Twitter. “Para muitos, o entusiasmo [por ver o papa], para outros, um sentimento de dor”, escreveu ele. A Igreja perdeu influência na sociedade irlandesa nos últimos anos.