Terça-feira, 11 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 5 de maio de 2018
Ciro Gomes não quer repetir um erro cometido no passado e está investindo na aproximação com a elite financeira do País. Há quase 16 anos, o então candidato à Presidência da República pelo PPS teve que divulgar uma nota oficial para explicar uma frase dita em um jantar com 30 empresários na casa do amigo Ricardo Steinbruch, do Grupo Vicunha: “O mercado que se lixe”. Naquele mesmo ano, em 2002, Luiz Inácio Lula da Silva – atualmente condenado e preso pela Operação Lava-Jato – pavimentou o caminho para o Palácio do Planalto e acalmou o mesmo mercado com a Carta ao Povo Brasileiro. No documento, ele se comprometia a “cumprir contratos” e manter a diretriz econômica em vigor. Lula venceu a eleição com o apoio de Ciro no 2º turno. Em 2018, o petista e o ex-governador do Ceará, agora no PDT, novamente se apresentam para a corrida presidencial. Mas Ciro é o único que tem se dedicado a construir pontes com essa elite.
O ex-governador, que foi ministro da Fazenda de Itamar Franco, tem feito um esforço explícito para afastar a imagem de imprevisível e explosivo e ser bem recebido em círculos identificados com o pensamento econômico liberal.
“O Ciro está mais aberto a escutar e menos voluntarioso”, disse o presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Robson Andrade. O empresário mineiro teve recentemente uma longa conversa com o pré-candidato do PDT. Os dois concordaram na necessidade da promover uma reforma da Previdência e o ajuste fiscal – mas não tocaram em um ponto nevrálgico: a reforma trabalhista.
Andrade conta que “ouviu pela imprensa” que o pré-candidato do PDT defende sua revogação. “Não sei é influência do PDT ou do Carlos Lupi, mas isso é totalmente fora de propósito”, disse o presidente da CNI.
Ciro foi em abril o único representante da “esquerda” em um evento que reúne anualmente a direita intelectual e empresarial mais engajada: o Fórum da Liberdade, organizado pelo IEE (Instituto de Estudos Empresariais) – fundado há 30 anos em Porto Alegre e que tem como objetivo formar líderes empresariais e difundir conceitos de economia de mercado e livre iniciativa.
Entrevistado no evento, que teve o juiz Sérgio Moro como maior estrela, Ciro afirmou que não considera Lula um preso político. Ganhou pontos.
Ex-ministro da Integração Nacional do petista, Ciro foi também na semana passada o único presidenciável do seu campo político a visitar a Agrishow, a principal feira agropecuária do País, em Ribeirão Preto. Visitou estandes de empresas, fez discursos e lembrou que a senadora Kátia Abreu, ex-presidente da CNA (Confederação Nacional da Agricultura) e recém filiada ao PDT, estará na linha de frente das propostas de sua campanha para o setor.
Ciro também foi recebido no Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) – que reúne atualmente 50 empresários representantes de grandes empresas nacionais – e por federações empresariais nos Estados por onde passou. Deu também palestra remunerada para uma agência de investimento e participou de diversos encontros privados com empresários de vários setores.
“Ciro está aberto a ouvir opiniões de todos os segmentos. Ele quer ouvir o setor bancário para discutir a redução do spread. A taxa de juros não pode ser fixada por decreto. É consequência”, disse o economista Mário Benevides Filho.
Formado economia na UnB e com doutorado na universidade Vanderbilt, nos Estados Unidos, Benevides, que foi secretário da Fazenda do Ceará por 12 anos, e é o responsável pelas diretrizes econômicas de Ciro.
O filósofo Roberto Mangabeira Unger continua no time, mas foi Benevides Filho quem assumiu a interlocução com o mercado e tem rodado o Brasil para cumprir a missão. O economista se apresenta sempre com o mantra: o ajuste fiscal não pode ter ideologia e Ciro não representa risco de ruptura.
Quando o assunto é a reforma trabalhista, porém, os apoiadores de Ciro admitem que o pré-candidato do PDT tem na proposta de revogar a reforma trabalhista – caso eleito – um calcanhar de Aquiles na tentativa de ser palatável aos setores financeiros e empresariais. Para Benevides Filho, “Ciro compreende que existem novas formas de trabalho – em casa, à distância – e tudo isso precisa ser regulamentado em uma nova reforma”.
O ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser Pereira, reconhece que a proposta de revogar a reforma trabalhista é um obstáculo nas conversas com o PIB. “Essa proposta da lei trabalhista é realmente contraditória.”.
“Ciro às vezes diz o que não devia. É politicamente incorreto, mas no plano das decisões nunca foi ‘porra louca’. É um candidato de centro-esquerda, não de esquerda. Sabe que estamos em um regime capitalista e que precisa governar com empresários”, disse Bresser.