Terça-feira, 11 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 26 de abril de 2018
Sem conseguir votar matérias importantes para o governo, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ameaçou descontar os salários dos deputados da oposição que estão em obstrução e tentam impedir o andamento dos trabalhos na Casa desde a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 7 deste mês.
Maia abriu a sessão da Câmara na noite de quarta-feira (25) anunciando que todas as votações terão efeito administrativo e que poderá rever a sua decisão sobre a validade da presença no plenário dos deputados de partidos que estão em obstrução. “Eu sou muito da conciliação e do diálogo, mas se a oposição tem o direito de obstruir, vou reavaliar a questão de ordem sobre a presença no plenário”, disse Maia.
O presidente da Câmara também afirmou que a decisão da oposição está impedindo a Casa de “cumprir o seu papel constitucional de legislar”. “A minha flexibilidade tem limite, e o limite é o respeito a essa instituição”, disse. A posição de Maia causou reação no plenário. O deputado Silvio Costa (Avante-PE) afirmou que a oposição vai ficar em obstrução até Lula ser solto.
A deputada petista Érica Kokay (DF) também criticou a postura do presidente da Câmara. “Nós não cedemos à chantagem, quem faz chantagem dá uma demonstração de profunda fraqueza, porque não consegue conduzir um governo que está aos frangalhos.” O argumento dos deputados em obstrução, liderados pelo PT, é que o País passa por uma crise política e institucional desde a prisão do ex-presidente, e a pauta do Congresso não pode seguir normalmente, como se nada estivesse acontecendo.
A obstrução é um recurso previsto no regimento da Câmara utilizado por parlamentares em determinadas ocasiões para impedir o prosseguimento dos trabalhos. O líder anuncia que o partido vai adotar a medida, o que faz com que a presença dos deputados da bancada deixe de ser computada e dificulta o alcance do quórum para as votações.
Apesar das dificuldades, o objetivo de Maia é votar algumas medidas provisórias enviadas pelo governo e o projeto que altera o cadastro positivo, considerado uma das principais bandeiras do Banco Central na área de crédito.
Candidatura
A pré-candidatura ao Palácio do Planalto de Maia perdeu força e começa a ser reavaliada pela cúpula do DEM, que passou a procurar nomes como o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) para conversar sobre futuras alianças.
O primeiro movimento ocorreu na semana passada, quando deputados da sigla, entre eles o líder na Câmara, Rodrigo Garcia (DEM-SP), se encontraram com Alckmin em Brasília. O prefeito de Salvador e presidente do DEM, ACM Neto, também deve procurar líderes de outras legendas, que inicialmente manifestaram apoio a Maia, como PP, PRB, SD e PR, para “estabelecer pontes” e não fechar portas no futuro. Dois desses partidos já lançaram pré-candidatos próprios ao Planalto: o empresário Flávio Rocha (PRB) e o ex-ministro Aldo Rebelo (SD).
Mesmo diante do cenário adverso, porém, o DEM diz que vai manter a candidatura de Maia e que um eventual apoio a outro nome só acontecerá em junho ou julho. “Neste momento, ninguém avalia a hipótese de desistência”, afirmou ACM Neto.
O presidente do DEM tem dito que o centro deve se unir em torno de uma candidatura única para continuar no comando do País, mesmo que isso signifique abrir mão de lançar Maia à Presidência. Defendida pelo presidente Michel Temer (MDB) antes de colocar sua candidatura à reeleição, a tese de lançar um nome único de centro também ecoa no DEM.
Segundo ACM Neto, o partido está estruturando a pré-campanha, contratou uma agência de comunicação para cuidar da parte de comunicação digital e Maia vai retomar as viagens nesta semana, com visitas ao Maranhão e Tocantins. Procurado, o presidente da Câmara não quis se manifestar.