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Por Redação O Sul | 3 de maio de 2018
A prisão de 53 doleiros, operadores e fornecedores de dinheiro vivo, realizada nessa quinta-feira por determinação da Justiça Federal na Operação Câmbio, Desligo, tem um “potencial explosivo”. Quem afirma é o procurador da República Eduardo El Hage, coordenador da Lava-Jato no Rio de Janeiro.
A operação visou boa parte dos doleiros que transacionaram com os doleiros Vinicius Claret e Cláudio Barbosa, apontados como os “doleiros dos doleiros” que firmaram delação premiada. Embora não se saiba os clientes dos alvos da operação, são mencionados supostos serviços a políticos do MDB, ao grupo empresarial JBS/Friboi, dentre outros.
“Essa é a maior operação desde o Banestado. Se pensarmos que a Operação Lava-Jato começou com um doleiro, podemos imaginar o potencial dessa operação. E esse potencial é explosivo”, ressaltou El Hage. O procurador se refere à prisão do doleiro Alberto Youssef, que havia sido preso em 2003 na Operação do Banestado e foi personagem central para a ampliação da Lava-Jato em Curitiba (PR).
Assim como Youssef, a força-tarefa dessa quinta-feira tem como alvo doleiros que firmaram delação premiada após serem presos. Dentre os nomes estão Claudine Spiero e Patrícia Matalon, além de operadores que atuavam no Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Minas Gerais. “As investigações de agora podem ensejar o rompimento desses acordos”, acrescentou o procurador.
Outro procurador, Sérgio Pinel, defendeu as delações premiadas, apesar da reincidência dos colaboradores do passado. “Nada do que foi apurado seria possível sem a colaboração premiada [de Claret e Barbosa]”. A dupla de doleiros foi solta nessa quinta-feira, em cumprimento ao acordo assinado com o MPF (Ministério Público Federal) – eles haviam sido presos em março do ano passado no Uruguai e extraditados no início do ano.
Foragido
Já foram presas 33 pessoas no Brasil e no Uruguai. O principal alvo, Dario Messer, está foragido. Em sua página no Facebook, o operador informa que mora na cidade de Hernandarias, no Paraguai. Ele mantém uma relação próxima com o presidente paraguaio Horacio Cartes. Segundo a imprensa local, o acesso ao Paraná Country Club de Hernanderias, onde Messer supostamente tem uma casa, foi restringido na manhã dessa quinta-feira.
Claret e Barbosa detalharam em delação premiada como funcionava um sistema que reunia doleiros de todo o país que movimentou cerca de US$ 1,6 bilhão (o equivalente a cerca de R$ 5,3 bilhões) envolvendo mais de 3 mil off-shores em 52 países.
Conhecido como “Juca Bala”, Claret já foi citado por executivos da Odebrecht, o corretor Lúcio Funaro e os doleiros Renato e Marcelo Chebar, que atuavam para o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral. Claret operava tanto contas no exterior como era capaz de fornecer dinheiro vivo para corruptores interessados em pagar as quantias a agentes públicos. Concentrava, assim, as duas pontas da operação dólar-cabo, usada para despistar as autoridades financeiras do País.
Embora atuassem no Brasil, os dois operavam o complexo sistema de dólar-cabo desde o Uruguai. Grande parte dos recursos em espécie era movimentada pela transportadora de valores Transexpert, já mencionada na delação do operador Álvaro Novis.
Claret e Barbosa foram presos em março do ano passado no Uruguai em decorrência da Operação Eficiência, feita com base na delação dos irmãos Chebar e que prendeu o empresário Eike Batista. Claret foi citado como tendo auxiliado na evasão de US$ 85,4 milhões de Cabral (equivalente a mais de R$ 282,4 milhões) – o que agora se revelaapenas uma fração de toda operação da dupla.
Assim como a empreiteira Odebrecht, o sistema “bankdrop” dos doleiros identificava os responsáveis pelas transações por apelidos. Os irmãos Chebar, por exemplo, receberam o nome de “Curió”. Os Chebar procuraram a ajuda de “Juca Bala” após o volume de propina do ex-governador aumentar consideravelmente após ele assumir o estado.
Em razão de sua prisão ter ocorrido em uma operação da Lava-Jato do Rio, ele acabou identificado como “doleiro do Cabral”, embora os dois tenham se conhecido de fato apenas na cadeia pública José Frederico Marques, em Benfica, para onde foi levado em janeiro após ser extraditado do Uruguai.