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Por Redação O Sul | 30 de janeiro de 2016
A possível transmissão sexual do vírus da zika ainda não foi comprovada cientificamente, mas também não pode ser descartada, com base em dois casos citados pela literatura científica. Apesar de destacar a transmissão pelo mosquito como a via principal de contágio, a OMS (Organização Mundial da Saúde) admite que a compreensão a respeito de outras vias é limitada.
“O zika foi isolado no sêmen humano, e um caso de possível transmissão sexual foi descrito. No entanto, mais provas são necessárias para confirmar se o contato sexual é um meio de contágio”, apontou a organização, recentemente. Médicos dizem que, diante desta dúvida a respeito da transmissão sexual, o melhor caminho é a proteção. “Essa não seria uma forma principal de infecção, mas é importante se prevenir”, disse o microbiólogo Davis Ferreira. O uso de preservativo na relação sexual é recomendado para grávidas para impedir o contágio de doenças que também podem afetar o feto, como a sífilis e a herpes genital.
Os dois casos a que a OMS se refere não são conclusivos, entretanto geram cautela. Em 2013, durante um surto de zika na Polinésia Francesa, o vírus foi detectado no sêmen de um homem de 44 anos. Ele havia apresentado sintomas típicos da infecção por zika: febre, dores de cabeça e nas articulações. Após alguns dias, o paciente notou vestígios de sangue no sêmen e procurou atendimento médico. Exames detectaram o vírus no material coletado.
Vírus replicante.
Neste caso, não houve a comprovação de infecção de uma segunda pessoa pela via sexual, mas, sim, da contaminação do sêmen pelo chamado vírus replicante, ou seja, capaz de gerar a propagação da doença. “Nossas descobertas apoiam a hipótese de que o zika pode ser transmitido por via sexual”, conclui um artigo de fevereiro de 2015, disponível no site do CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças, na sigla em inglês).
No segundo caso abordado pela literatura científica, o sêmen do paciente com zika não foi examinado. No entanto, a esposa deste paciente teve a zika diagnosticada e a única explicação plausível seria o contágio sexual. Foi o caso do cientista americano Brian Foy, em 2008. Ele havia visitado uma região do Senegal afetada por zika e, ao retornar para casa, no Colorado, Estados Unidos, teria infectado sua esposa durante uma relação sexual um dia após seu retorno.
“Vivemos no Colorado, um Estado americano onde não há mosquitos na época do ano em que minha mulher contraiu o vírus. E onde não há ocorrência do Aedes aegypti [o mosquito transmissor do vírus]. O mais provável é que minha mulher tenha sido infectada quando tivemos relações, antes de eu me sentir doente, mas a ciência ainda não está nem perto de provar a possibilidade desse tipo de contágio”, contou Foy.
O professor-assistente da Universidade Estadual do Colorado é um dos autores de um estudo que sugere a possibilidade de transmissão do zika por contato sexual. Inicialmente, Foy foi diagnosticado com dengue e médicos não conseguiram descobrir o que tinha se passado com sua esposa. Passou-se um ano até que eles descobrissem que se tratava de zika. O americano acredita que a repercussão causada pela epidemia no Brasil incentive o financiamento de pesquisas buscando investigar o assunto. Foy afirma não haver dúvidas de que a picada do Aedes aegypti é a forma principal pela qual se pode contrair o vírus, mas defende a importância de que ao menos se descubra mais sobre a via sexual.